Os deadlines da vida

Foto: Arquivo pessoal

*Fernanda Muylaert

Confesso. Só de ouvir a palavra sinto arrepio na espinha. Se você é jornalista sabe que, quando o deadline chega, sai de baixo. A corda tá no pescoço e não há saída. É hora de entregar a matéria pronta.

Mas e quando o deadline não sai da sua vida? Perdi as contas das vezes em que me peguei analisando os prazos que defini pra mim. Não tenho ideia de quando passei a ser assim… de quando comecei a cobrar, a me frustrar, a não perceber que meu tempo é diferente do seu. No imediatismo, criei deadlines. Ou cumpria, ou morria. Aí vieram as decepções.

Vinte e três. Meu deadline para o casamento. Vinte e seis para o primeiro filho.

Aos 21 veio o primeiro namorado. Ele, 10 anos mais velho, queria casar. Eu, a doida colecionadora de santos casamenteiros, simplesmente sabia que “o cara” não era ele. Transformei aí um dos deadlines. Friamente calculei a data, tomei coragem e terminei. A verdade é que não queria ver tanto sentido em ser o relógio da minha vida.

O tempo passou. Os 23 chegaram. TODAS as minhas amigas casaram. Menos eu. Os 26 vieram e TODAS elas tiveram filhos. Menos eu, aquela que ama criança e não imagina o futuro sem uma.

Aos 30 queria sucesso profissional. Consegui. Aparentemente estava tudo sob controle. Só que percebi que o tempo voa, as metas são outras e os prazos ficam mais apertados. O turbilhão do passado volta. Se você não se controla, algo te engole.

Não bastassem minhas cobranças, vieram as perguntas “despretensiosas”. Aquelas que, sem querer querendo, afetam: “Por que você está sozinha?”. “Vai casar quando?”… “Não é tarde pra ter filho?”… “Já pensou em produção independente?”. Vá por mim. Já pensei mais de um milhão de vezes. Mas cansei dos tais prazos. E mais: deixei de me importar com o que você pensa de mim.

E se eu quiser começar do zero aos 35? E se minha meta for não ter meta? E se eu resolver traçar a linha da vida ao invés dessa “linha da morte”? Jogar pro universo e ver o que acontece tem sido melhor do que me apegar a tudo isso. E tá tudo certo se nada acontecer. Porque, no fundo, eu sei que só vai rolar quando eu esquecer esse tic-tac de um relógio injusto, ajustado por mim mesma.

*Fernanda Muylaert é jornalista por profissão, blogueira por opção e uma apaixonada por viagens. Ama bichos, acredita no amor e crê que “tudo passa”.

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