O medo

Foto: Arquivo pessoal

*Priscilla Bessa

Um dia o medo bateu à minha porta e, sem pedir licença, puxou uma cadeira e sentou no meio da sala. A verdade é que ele já vinha rondando há algum tempo, como se eu já soubesse que algo estava errado. Mas, nesse dia, ele decidiu entrar pra ficar.

Com muito esforço, eu consegui escondê-lo detrás da porta no quarto dos fundos. Algumas vezes, eu ainda vejo ele me olhando pela fresta escura da incerteza.

Poderia ter sido uma sexta-feira comum, mas foi o pior dia da minha vida. Eu estava de folga, então aproveitei a manhã para levar Anna Luiza pra vacinar. Ela teve uma reação febril. Dei analgésico duas vezes, mas a febre não estava cedendo. Resolvi dar um banho para ver se diminuía.

Enquanto vestia a roupa dela, percebi que algo estava errado. Seus olhinhos estavam desviados para o canto. De repente, seu corpinho começou a se contorcer todo e eu fiquei sem reação. Segurei ela nos meus braços e gritei por socorro. Nunca tinha visto uma convulsão antes. Só nos filmes.

Foram minutos que pareceram uma eternidade. Não consegui ligar para o pediatra ou pedir uma ambulância. Foi como se não soubesse usar o telefone. Simplesmente parei de pensar.

Quando ela parou de se retorcer, ficou roxa e desfalecida nos meus braços. Seu corpinho de apenas oito meses parecia sem vida. Não calcei sapato nem peguei bolsa. Quando dei por mim estava dentro do carro a caminho do hospital.

Graças a Deus, ela havia acordado antes de chegar à emergência. Foi medicada e ficou dois dias em observação. Quando recebeu alta, foi encaminhada a um neurologista, marcando o início da nossa jornada em busca de respostas para nossos medos.

Sempre tive medo da morte. Mas nada se compara a sensação de impotência e desespero de ter o ser que você mais ama na vida desfalecido em seus braços. A partir desse dia, o medo passou a fazer parte de nossas vidas. Medo do futuro, do desconhecido, do imprevisível.

Foto: Arquivo pessoal

Como eu desejei poder te proteger de tudo em meus braços! Como eu quis que meu beijo te curasse! Mas isso não foi possível. Ainda assim, o amor e a fé venceram o medo, colocando ele em seu devido lugar e nos fortalecendo para as duras batalhas que estavam por vir.

*Sou Priscilla Bessa, mãe de três amores. Anna Luiza, hoje com 5 anos, foi diagnosticada aos 18 meses com síndrome de rett, um transtorno neurológico raro que causa grave comprometimento motor, intelectual, epilepsia e autismo. Compartilho nossa jornada especial no perfil @special.anna com o objetivo de conscientizar, inspirar e espalhar o amor!

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