Rehab afetiva

Imagem ilustrativa para o texto Relacionamentos Toxicos de Fabricia Hamu
Foto: Unsplash

*Fabricia Hamu

Relacionamentos tóxicos são divisores de água na vida das pessoas. Nos transformam para sempre. Mas como saber se é tóxico? Se ele desperta o pior que há em você, se te deixa irritada, insegura, triste, se sentindo miserável e, ainda assim você não consegue se livrar dele, é porque é tóxico. Muito. Inegavelmente.

Depois que ele te devasta e os cacos ficam espalhados pelo cantos, há duas alternativas: permitir que os pedaços continuem no chão, se esfarelando ao serem pisoteados, até se transformarem em pó; ou colar os cacos e olhar para aquele objeto todo remendado para sempre, não como forma de masoquismo, mas como lembrete: viver daquele jeito, nunca mais.

A segunda opção dá mais trabalho. Exige uma reabilitação intensa. E como toda rehab, requer uma força de vontade descomunal. No início, você pensa que vai morrer de abstinência. Chora, adoece, não dorme, não come, não raciocina.

E então passam-se dias. Semanas. Meses. A falta vai diminuindo, mas ainda está lá.

O ideal é que você permaneça longe da pessoa, mas pode acontecer – aliás, o mais provável é que aconteça – de você não aguentar e procurá-la. É um vício, então as recaídas são esperadas. E sendo recaídas, fazem você se sentir ainda pior. Você sabe que não é bom, que nunca será, então por que repete? Haja culpa e arrependimento.

Daí vem a fase de se conscientizar de que, como em todo tratamento para se livrar de um vício, não adianta pensar em qualquer tipo de contato com a pessoa. É preciso cortar todo vínculo existente. E para não enlouquecer, é preciso seguir o mantra dos alcóolicos anônimos: só por hoje. Só por hoje você não vai ligar. Não vai procurar. Não vai implorar. Só por hoje.

Mantra recitado e internalizado, dia após dia você vai se fortalecendo. E vai compreendendo que o que sentia, na verdade, não era amor, mas dependência emocional. Porque amor acalma, alivia, te puxa pra cima, centra, alegra. Dependência emocional humilha, exaure, te leva pro fundo do poço, te faz ter vontade de sumir.

A melhor parte é quando você se dá conta de que merece amor.

Quando você percebe que está curada não apenas da dependência emocional daquela pessoa, mas de todas as outras, de forma geral. Quando você decide que não quer mais um cúmplice que te ajude a se torturar e sofrer, mas um parceiro para o projeto de construir uma vida feliz.

Nessa hora, a gente se sente como a Natalie Portman na cena final de Closer. É exatamente assim que me sinto hoje. Com aquela leveza, aquela paz de espírito. Quando você descobre que está livre e, ao saber que a pessoa está com outra, fica até feliz, pensando: “antes ela do que eu”. Porque o amor, definitivamente, não pode ser uma droga.


*Fabrícia Hamu é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Escreve às segundas-feiras, duas vezes por mês.

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