Até amanhã!

Juliana Ribeiro escreve sobre a morte
Foto: Pixabay

*Juliana G. Ribeiro

Toda vez que me despeço de alguém de quem gosto penso que pode ser a última vez que nos vemos. Eu posso morrer nos próximos minutos. A pessoa de quem estou me despedindo pode não chegar viva ao fim do dia. Exagero? Pessimismo? Eu chamo de realismo.

Morrer é a única coisa certa e infalível da vida. Eu aprendi isso a duras penas, quando meu pai faleceu aos 50 anos, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Ele estava sentado no sofá assistindo televisão e no minuto seguinte, não estava mais lá. Isso aconteceu há 23 anos, mas até hoje, há momentos nos quais a sensação é de que ele foi viajar e vai voltar a qualquer momento.

É um sentimento muito difícil de lidar e quase impossível de aceitar porque você sempre vai se culpar e ficar remoendo tudo o que disse e fez ou deixou de dizer e fazer. Depois de alguns anos, com maturidade e sabedoria, você começa a compreender que a vida é assim, doa a quem doer. Cabe a você continuar a viver ou sucumbir à dor e culpa. Cada unicamente a você!

Talvez por isso tantas pessoas evitam pronunciar a palavra morte e sequer aceitam quando alguém comenta o assunto. Eu, por exemplo, já disse várias vezes que se não morrer jovem, quero me aposentar e morar em um lugar como Pirenópolis, Goiás. Do outro lado, escuto: “Credo, para de falar essas coisas. Dá azar.”

Se eu não pronunciar a palavra ou deixar de pensar nela, a morte vai embora?

Claro que não é assim, mas, muitas vezes, é melhor viver essa ilusão do que encarar a realidade. Quem já perdeu alguém querido não esquece isso em nenhum minuto ou pelo menos não deveria esquecer. Quem ainda, felizmente, não passou por isso, também deveria pensar no assunto.

Isso, porém, não significa ficar deprimido achando que vai morrer a qualquer momento. Pelo contrário, é preciso ter a consciência de que, AGORA, estamos vivos e isso é o que importa. Pense nisso e, na medida do possível, não deixe para ser feliz amanhã.

Não deixe para pedir desculpas quando seu orgulho tiver diminuído. Não espere para se declarar a sua família, aos seus amigos, ao seu amor. Hoje é o dia. Não espere até amanhã!


*@julianagribeiro.jornalista é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.

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