Uma transformação chamada câncer

Fabricia Hamu no Blog Vida de Adulto
Foto: Pixabay

*Fabricia Hamu

Eu não tenho câncer, mas minha mãe tem e uma amiga muito querida, que partiu no último sábado, tinha. Conviver tão proximamente com pacientes dessa doença é uma experiência transformadora. Te obriga a rever mitos, reavaliar expectativas e encarar medos. Quem tem câncer muda com ele. Quem acompanha o tratamento, também.

A tendência de quem está perto é minimizar a perda dos cabelos e o mal-estar causados pela quimioterapia e a radioterapia. Eu fazia muito isso. A gente quer que a pessoa permaneça positiva na busca da cura, mas se esquece de um detalhe: perder os cabelos é muito difícil, sobretudo para uma mulher. E os efeitos colaterais do tratamento são mesmo muito ruins.

Quando minha mãe e essa amiga começaram a se tratar, eu era cheia de palpites.

Com o tempo, abandonei o ar professoral, porque compreendi que não se pode ensinar alguém a enfrentar uma dor que, ao final, é só dela. Troquei as palavras pelos abraços silenciosos. Substituí a arrogância pela humildade de quem mostra que estará ali, quando e se o outro quiser.

Também parei de fazer planos, porque tudo é mutável. A pessoa sai bem da quimio, mas três dias depois passa mal. Melhora, mas depois tem outra recaída. Alguns dias são ótimos, outros bastante desafiadores. Não adianta estressar, querer que tudo se estabilize. Não está no nosso controle e o tratamento seguirá o curso que tiver de seguir.

A maior mudança que a convivência com pacientes que têm câncer me trouxe, porém, foi a maneira como os percebo.

Antes, eu me concentrava muito na fragilidade corporal dessas pessoas. A imagem clássica do paciente careca e debilitado me despertava pena. Ficava imaginando com fariam para exercer as tarefas mais cotidianas e na dependência dos outros.

Hoje, sei que por trás de cada paciente com câncer, existe um leão ou uma leoa. A força que essas pessoas desenvolvem para lutar pela vida e se submeter a um tratamento tão difícil é admirável. A coragem delas é tão grande, que se faz sentir até mesmo quando morrem. Quem fica nos inspira a ser melhor. Quem parte, ainda mais.


*@fabriciahamu é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Escreve às segundas-feiras, duas vezes por mês.

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