A teoria do café
Amor, para Pedro, era como tomar um bom café, quente e forte. Quando esfriava, jogava o que ficou fora. Porém, Marília, sua namorada, acreditava na construção das relações, na renovação necessária dos votos não verbalizados, em uma vida a dois que, mesmo na impossibilidade de nossas humanas imperfeições resistiria às tempestades, e se fortaleceria com o passar dos anos.
Sim, Marília desejava, como muitos, envelhecer ao lado de Pedro andando de mãos dadas na praia, assistindo ao pôr do sol.
Pedro não desconhecia seu sonho, e não descartava a ideia, mas sentia que aquele café já estava morno.
Depois de algum tempo – daquele período feliz em que brigamos e nos reconciliamos com o mesmo ímpeto apaixonado -, a cada pequena crise controlada, a temperatura entre os dois sofria uma ínfima redução.
E assim seguiram juntos, Marília e Pedro, até que num domingo ensolarado Marília percebeu que eles estavam perdendo a conexão. Apavorada diante da possibilidade do término, tratou de salvar sua relação: buscou ajuda psicológica, fez dieta e aulas de pompoarismo, mudou o corte do cabelo e comprou roupas novas. Pedro nada entendeu. Na verdade, ficou meio desconfiado, achando que Marília talvez estivesse apaixonada por outro.
Todo aquele esforço para ficar linda e melhor na cama era um pouco confuso, mas até que ele gostou. E a cada novo desajuste vinham novas fórmulas de reconciliação – sexo selvagem, jantar romântico, viagem surpresa. Agora as coisas pareciam entrar nos eixos, acreditava Marília, enquanto Pedro começou a perceber que aquele café quente não era novo, que a cada tentativa de requentar aquela relação seu sabor ficava mais amargo.
Mais alguns meses se passaram, e ‘as novidades’ para reforçar a relação não serviam mais, a nenhum dos dois. Pedro já admitia que aquele café estava frio e amargo, mas sentia uma espécie de comoção com os esforços de Marília. Ela, por sua vez, passou a iludir-se, buscando acreditar que agora, sim, eles eram um ‘casal real’, e que, afinal de contas, não adiantava buscar um novo amor, porque todos acabam caindo na mesma rotina.
Marília se acomodou. Pedro desistiu e partiu em busca de uma nova xícara de café que esquentasse seu peito. Marília chorou, chorou e chorou, até que no entardecer chuvoso de um domingo resolveu pintar os cabelos e retomar a dieta.
Resumo:
As relações amorosas costumam passar por ciclos: entusiasmo, acomodação, decepção e… sobrevivência, desistência ou renovação. Não há uma fórmula de sucesso, não há como “obrigar” nosso par a nos amar na mesma intensidade. Então, acredito que o amor é como café, precisa ser saboreado quente, não pode esfriar, e nunca, jamais, ser tomado morno.
*@seleuciafontes é um ‘bicho do cerrado’. Nasceu em Brasília, morou em Goiânia, onde cursou Jornalismo com a Taciana e a Juliana, e hoje vive em Palmas. É da geração que não aceitou os tradicionais padrões impostos para a mulher e segue abrindo seu caminho.