Homenagem para uma flor

Foto: Arquivo pessoal

*Viviane Maia

Há exatos seis anos, numa segunda como hoje, vivi o dia mais triste da minha vida. Mesmo não sendo remota a possibilidade da perda da minha mãe – que já era idosa e se recuperava de uma cirurgia no fêmur –, eu não acreditava que ela iria partir. Afinal, era a mulher mais forte do mundo. A mais corajosa que conheci. Mas estava enganada, ela se foi na manhã daquela segunda modorrenta, quando eu não estava por perto.

Tristeza não é o que eu sinto agora. Saudosa é a palavra adequada. Mas feliz. Feliz por ser filha de uma mulher incrível. A começar pelo nome – Maria Rosa.

 

Maria é sinônimo de mãe. Todas as mães são um pouco maria. E Rosa é nome de flor.

Feminista por intuição e instinto – minha mãe nunca ouviu falar no nome de nenhuma feminista –, Maria Rosa ensinou às suas quatro filhas que homens e mulheres devem gozar dos mesmos direitos. Que mulher deve estudar para conquistar autonomia financeira e as rédeas da vida. Aprendi cedo que para ser dona do próprio nariz tem de ser dona do próprio dinheiro. E o estudo é o melhor caminho para isso.

Minha mãe não era escrava das convenções. Pelo contrário, às vezes, era bem rebelde e à frente do seu tempo. O dia que completei 30 anos, me chamou e disse: “muita gente vai te dizer que mulher tem de casar e ter filhos para se realizar como mulher, mas não é bem assim, você pode ser uma mulher realizada sem ter de assumir esses papéis”.
⠀⠀⠀
Minha mãe também não era dada a preconceitos. Aprendi com ela que classe social, etnia, orientação sexual, religião ou credo não são categorias que classificam as pessoas como boas ou ruins. As pessoas devem ser livres para escolher o que querem da vida.

Foram muitas lições ensinadas, mas, certamente, uma está entre as mais valiosas: que a sociedade é machista, por isso as mulheres têm de lutar para garantirem seus lugares ao sol. Entretanto, se elas não forem solidárias entre si, ficarão ainda mais suscetíveis à opressão. Sororidade. Aprendi com a minha mãe, muito antes de sonhar que esta palavra existia.

Obrigada, Maria Rosa, por todos os ensinamentos. Você sempre será minha referência e inspiração!

* Viviane Maia é jornalista e professora universitária.

 

One thought on “Homenagem para uma flor

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *