Mais um pro mundo doido

Foto: Pixabay

*Letícia Araújo

Ouvi dizer que somos a geração que toma remédio pra dormir e café pra ficar acordado. Minha reflexão foi mais fundo. Somos as pessoas que se blindam pra não sentir, com medo da dor se viciam na falsa sensação de segurança. No meio da multidão, absolutamente sozinhos. Um montão de gente se afogando na vala do mar, dando cabeçada nas pedras. Gente se segurando no pé daqueles que conscientemente boiam e remam pra sair desse buraco.

Eu, particularmente, deixo o mar me afundar pois sei que lá no fundo é calmo. E com um pouco de paciência o sal me fará subir e eu voltarei a superfície pra pegar ar de novo.

As pessoas vivem em polaridades: o fanático religioso e o cético; os doidões e os fiscais da vida sexual alheia; os perdulários consumistas e os veganos militantes da natureza; as “feministas radicais” e os machistas conservadores; as mães de pet e os que envenenam cães; a piranha libertina e as recatadas do lar; e, por fim, o que me preocupa mais o EU e o outro que fica invisível e inacessível mesmo do lado.

Uma sociedade pós-moderna cheia de discurso e prática zero. Tiro, porrada e bomba em oposição aos “novos anos 70 hippies do iPhone”. Cadê o ninguém solta a mão de ninguém? Enquanto lutamos nossas pequenas batalhas egoístas estamos abandonando a divindade e sacralidade que nos conecta?

Vivemos nos equilibrando num fio de seda. Poetas, escritores, pintores, artistas se debruçam pra salvar o que resta de divino na humanidade enquanto grande parte de nós se arma pra lutar contra os Deuses Diabólicos dos outros – a carne, a droga, o dinheiro, a religião?

Me mantenho boiando. Abrimos mão do pouco sincero pra viver um muito de fantasia. Eu? Cada dia mais torcendo pelo asteroide, vulcões em erupções, terremotos em proporções absurdas, pra que não tenhamos que nos matar de fato pra renascer melhores.

A vida do século XXI é um grande “The Sims”, onde o jogador manipulador criou uma casa sem porta e janela pra nos ver dando de cara na parede enquanto saímos do Life cheio pro vermelho aterrorizante. Nesse jogo não tem macete. E nós somos os grandes ceifadores do destino de um e de todos.

*Letícia Araújo é visceral, forte e resiliente. Reúne tudo que escreve e faz sentido no https://oqnaofazsentido.tumblr.com/

 

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