Acontece com todo mundo
* Paulo Pimenta
Ninguém escapa, não dá para fugir. Pode ser amigo, namorado e até mesmo parente próximo. Não, não, eu não falo da morte. Isso também acontece com todo mundo. Mas não é isso – ao menos por enquanto.
Eu falo de quando o abraço não encaixa mais. Falo de quando o aperto de mão não puxa mais a pessoa para perto da gente. De quando a gente abraça de lado, sabe? Quando cola o ossinho da nossa cintura com o ossinho da cintura da outra. Falo de quando a gente deixa de cumprimentar com um beijo no rosto e passa a apenas grudar uma bochecha na outra, fazendo com que o estalo do beijo se solte no ar.
E tudo bem quando isso acontece. Acontece com todo mundo.
Ao menos uma vez na vida, a gente passa pelo (quase sempre) doloroso processo de “deixar ir”. É quando não tem mais espaço aqui, e o outro tem de se mudar para acolá. Ou quando a gente não mais encontra colo ali, e descobre um cafuné cá. Durante tal processo, a gente vê que completou o ciclo com essas pessoas. A gente percebe que elas vieram, deixaram algo delas, independentemente de ser bom ou ruim, e precisaram partir. Não as cabia mais por aqui. Mas a bagagem delas fica.
E tudo bem quando isso acontece. Acontece com todo mundo.
Faz parte da vida entender que a gente não tem a obrigação construir a casa dos sonhos em um lugar que não tem certeza que é bom. Nos ensinam que as coisas precisam durar para sempre, mas esquecem de nos contar sobre as mudanças e as reviravoltas da vida. Não dizem que podemos acordar com vontades diferentes das que fomos dormir na noite anterior. Dizem que somos responsáveis até o fim da vida por aquilo que cativamos como se não tivéssemos o direito de alterar nossas escolhas.
Existem dias em que deixamos para trás sacolas com sentimentos, pesos, lutas e aprendizados. Daí, mais à frente, encontramos outros sacos repletos de novidades.
Nos desfazemos daquilo que já não cabia mais em nós, seja por ter encolhido ou por estar grande demais, e nos vestimos com o novo. Às vezes, somos essas pessoas que encontram os sacos. Outras tantas, somos as sacolas deixadas para trás.
E tudo bem quando isso acontece. Acontece com todo mundo.
*Paulo observa e fala na mesma proporção. Conversa sobre relacionamentos mais do que a maioria da população. Aquariano com ascendente em Áries, gosta de mudar de ideia e só escreve aquilo que teria coragem de dizer em voz alta — cartas olham, sim, nos olhos (desculpa, Roupa Nova).