Amor de avó

Foto: Arquivo pessoal

Encontro com a vizinha e pergunto pelo filho dela. “Está com minha mãe. Preciso deixá-lo menos com ela, menino criado com avó não dá certo. Eles ficam mimados e fracos”, afirmou. Respondi que discordava, pois fui criada com minha avó. “Mas você não é mimada nem fraca”, espantou-se ela. Pois é, os clichês quase nunca correspondem à realidade.

Moramos com minha avó quase a vida toda. Minha mãe trabalhava o dia inteiro, na minha infância, e era com a minha avó que eu passava a maior parte do tempo. Nossa casa ficava no Centro da cidade, e a forma que ela encontrou de me ensinar a andar no bairro era caminharmos juntas por todos os lugares, aprendendo o nome das ruas, dos comércios, dos vizinhos e dos comerciantes.

A melhor defesa, segundo ela, não era não falar com estranhos, mas justamente conversar com as pessoas, tentando entender a história e a vida delas, e a partir daí tirar conclusões. Sei que pais e mães não teriam tempo nem coragem para esse tipo de coisa. Mas as avós têm, e por isso elas são tão importantes – sem contar o amor que oferecem.

Amor de avó tem gosto de bolinho de chuva. Tem cheiro de erva cidreira.

Tem caimento de roupa costurada em casa e bordada à mão. Tem perfume de sabonete de rosas. Tem a sabedoria de entender que a melhor farmácia que existe é a natureza. Tem histórias antigas na varanda. Tem elogio sem pedido. Tem bronca sem braveza.  

Num mundo em que nos mandam erguer a coluna e murchar a barriga, as avós pedem que deitemos no colo para ganhar cafuné. Num mundo de gritos, elas são olhos nos olhos e a explicação serena do que nem sempre é óbvio. Num mundo de pressa, elas são a pausa para ensinar o nome daquela flor ou observar o pássaro que pousou no jardim.

Não julguem as avós. Não impeçam seus filhos de ficar com elas. Quando eles se tornarem adultos e precisarem de uma porção de delicadeza para lidar com esse mundo louco, é a lembrança delas que eles buscarão na memória. É aquela voz mansa e amorosa que eles ouvirão, dizendo que para tudo tem um jeito, e para o que é irremediável existe abraço, beijo, paciência e afeto.

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