Não uso garfo de plástico!

Foto: Warner Bros.

Esta semana faleceu uma pessoa próxima e querida que passou seus últimos meses internada em um hospital perto da Avenida Paulista, São Paulo. Boa parte desse tempo de internação foi em quarto compartilhado com pacientes de diversas origens e estilos. No dia de sua morte, parentes que durante semanas se revezaram ao lado de sua cama tinham várias histórias para contar sobre o quarto 407.

Uma delas contou que ficou amiga de outros acompanhantes de pacientes e até criaram um grupo de conversa. Continuam em contato. A outra lembrou de um paciente cujos parentes incomodavam muito durante as visitas porque conversavam e riam alto como se estivessem em suas casas.

Também ouvi sobre um senhor estrangeiro, nervoso, que sempre parecia xingar as enfermeiras, mas como ele falava em seu idioma, ninguém entendia nada. Ficava por isso mesmo.

Uma história chamou mais a atenção. Um dia, um dos pacientes “deu piti” e reclamou em voz alta porque sua refeição foi entregue com talheres descartáveis. Para a funcionária, ele disse que não ia comer usando esses utensílios. Simples assim.

Enquanto pessoas morriam ao seu lado, parentes desesperados tentavam se confortar e funcionários do hospital exerciam seu trabalho, alguém se sentiu ofendido porque ia comer com um garfo de plástico.

Confesso que não sei o final da história, mas fiquei pensando sobre isso. Essa pessoa sempre foi assim ou teve uma crise nervosa? Considerando o ar pesado do ambiente hospitalar e sem saber a doença que levou esse paciente ao local, acho que pode ser qualquer uma dessas duas opções ou até outras. Nunca vou saber a resposta.

O fato é que os problemas são os mesmos para ricos, pobres, brancos, negros, jovens, velhos. O que muda é a maneira como reagimos. Quando a doença e o risco da morte batem à porta, o desespero chega de um jeito diferente para cada um. Uns se apegam à religião, outros culpam o mundo por sua doença. Uns repensam seus gestos, outros ficam cegos pelo desespero.

Fico tentando imaginar minha reação. Como me comportei em um momento de estresse diário? Como seria isso multiplicado por 1 milhão? Confesso que não sei. E você?

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