Estrangeira no meu próprio país


Foto: Arquivo pessoal

*Maione Queiroz

São anos de vivência no estrangeiro! Tantos que o que seria o estrangeiro deixou de sê-lo e se incorporou ao meu ser. Agora de longe posso admirar essa França e dizer toda minha gratidão pelo que vivi e aprendi lá.

Difícil e desejado aprendizado. Os franceses tão diferentes, tão outros, tão ásperos e curiosos. Seus ares me fascinaram, sua diversidade, seu espírito crítico e aberto. Agora posso dizer que a amo. É sempre saudável dar um passo para trás e perceber em qual mundo você está mergulhado. A França me deu o gosto do mundo, do mundo inteiro. Essa é sua universalidade e peculiaridade. Pronta agora como cidadã do mundo.

Tem palavra mais bonita que liberdade? A liberdade é a essência de cada ser. Como é difícil de chegar nessa essência. No miolo do ser, onde tudo é possível, porque a liberdade te permite tudo. Igualdade e fraternidade, que extraordinário! Um país que almeja a liberdade, igualdade e fraternidade, é algo de muito requintado.

Estou aqui, cheguei? Onde estou? Estou aqui, perdida no meu próprio país. Tudo me é estranho e estrangeiro. Como as pessoas suportam tanta insensatez? Tanta ignorância, tanta violência? Por favor, não fale mal de seu país, sua terra, sua gente! Não falo mal, mas aqui tudo me dói e incomoda. Não consigo descansar.

Que me perdoem meus amigos, meus irmãos, meus pais, mas, quando estava fora, o Brasil era aconchego, pensar no Brasil me enchia de saudades boas e me fazia prosseguir dizendo, “Ah! Como é bom! Ali tenho tudo que preciso, minhas raízes.”

E agora? Agora preciso me aconchegar no casulo do meu ser para um mergulho profundo em mim mesma. Acabaram-se as palavras. Preciso me despir de mim para começar um novo voo e poder enfim dançar com os anjos da alegria.

“Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.”

Cora Coralina

*Maione Queiroz. Mais uma vez a genial Clarice Lispector revelando a alma feminina, sou exatamente isso : “Quem sou eu?, eu sou uma pergunta. Adolescente em crise. Crises… De tudo o que você imaginar.” No mundo quem eu sou? Nesse recomeço sou professora de Francês e tenho na minha mala algumas habilidades para criação audiovisual, atualmente estou levando adiante a edição de entrevistas que fiz com a médica psiquiatra Nise da Silveira, a mulher mais livre que já conheci.

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