Mãe dentro da mãe

Foto: Pixabay

*Rachel Mortari

Durante muito tempo, tive sérios problemas com minha mãe, queria que ela fosse diferente, que fosse outra mãe. Bati muita cabeça, morei em várias cidades e não me fixava em emprego nenhum. Virei mãe e, com o tempo e a idade, comecei a perceber que antes de ser minha mãe ela era uma mulher.
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Mas isso foi a minha consciência e, apesar de ser o primeiro passo para a mudança, as transformações só acontecem quando as percepções tocam o coração, o que às vezes leva tempo. Precisa descongelar sentimentos, desgrudar mágoas, tirar crostas de emoções, reprogramar lembranças.
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Convencer a menina chorona que a Grande Mãe, o arquétipo do inconsciente coletivo trazido por Jung, na vida real, de carne e osso, não é tão perfeita e que a maternidade não é esse lugar sereno, foi difícil e doloroso.
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Anos de trabalho com o Sagrado Feminino, terapias e estudos para reconhecer que toda luz tem um sombra e a mãe boa também é a devoradora e, como o próprio Jung diz, é a origem de várias perturbações infantis e que podem seguir por toda uma vida.
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Talvez tenha sido só há bem pouco tempo, na formação de Constelações Familiares, que eu tenha, de fato, apreendido os limites de uma mãe que também já foi filha, mulher, que teve sonhos, vaidades, frustrações, contas para pagar, quilos a emagrecer. Foi quando comecei a fazer as pazes com o meu passado e praticar o que Bert Hellinger chama de tomar a mãe.
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Só que tomar a mãe não é num gole só, é em pequenas doses. E aqui vou eu, a cada dia, tomando de pouquinho em pouquinho, essa vida que chega até mim, como um rio, que flui da mãe, da mãe, da mãe da minha mãe, desde a primeira mãe, aquela que É, que traz toda a força do feminino saudável, amoroso, nutridor e que me ensina a sarar a ferida em mim e, me tratando, curar também o meu sistema.
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Pelo olhar sistêmico, a mãe está relacionado ao sucesso, mas o sucesso vai além das questões financeiras, está ligado a confiança em si mesmo. Quem está nutrido da energia acolhedora da mãe se sente seguro, com raízes, não tem medo da vida.

*Rachel Mortari é jornalista, consteladora familiar, psicanalista junguiana e adora gatos e banho de mar.

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