A lição de Drummond
*Fernando Rêgo Barros
“Fernando, por que você não escreve sobre o livro que mais marcou você?”. O desafio me foi lançado pela amiga Taciana Collet. Topei na hora. Mas depois, parando para pensar, fiquei me perguntando que livro seria esse. Dei uma olhada nas estantes de casa e concluí, vou ser sincero, que não tenho um livro especial, aquele que eu diga: é esse o livro que mais me marcou.
Sem pedir licença, mudei a pergunta. Em vez de escrever sobre o livro mais marcante, escreveria sobre o autor que me deixou marcas mais profundas. Ficou bem mais fácil. O escolhido é Drummond.
Tive o primeiro contato com a poesia dele ainda na adolescência, anos 80. De cara, gostei do que ele escrevia. Poemas como “No meio do caminho”, “Infância”, “Poema de sete faces” me diziam muito. Só depois do contato com os primeiros poemas, fui descobrindo que Drummond era um poeta prolífico.
Seus livros antigos não paravam de ser reeditados e novos ainda surgiam. Tivesse eu a facilidade do meu amigo Evaristo Filho para memorizar poemas, estaria sempre citando versos do poeta mineiro.
Logo descobri também o Drummond cronista. E aprendi que é possível escrever com sensibilidade sobre as coisas mais simples do mundo: uma flor, uma criança, uma moça deitada na grama. Me interessei pela vida do escritor. Era muito discreto, calado, mas um profundo observador do cotidiano.
Uma vez ele disse que não deixava de andar de ônibus porque era ali que tirava o material para suas crônicas. No ano de 1987, sofri quando ele teve de enterrar sua filha, Maria Julieta. E mais ainda dias depois, quando foi ele que partiu.
Uma frase dele virou lição pra mim: “escrever é a arte de cortar palavras”. E como é, poeta! Penso sempre nisso quando estou diante do teclado.
Hoje, mais de 30 anos depois da morte de Drummond, continuo recorrendo a seus textos. A “Antologia Poética” é um de meus livros de cabeceira. Comemoro todo 31 de outubro, dia de seu nascimento, como o dia D.
E assim vou seguindo… sempre na companhia do poeta.
*Fernando Rêgo Barros é jornalista da TV Globo em Brasília. Leitor apaixonado.
Foto: Rogério Reis
Rogério Reis fez vários retratos do poeta mineiro, inclusive aquele que inspirou a escultura de Leo Santana na orla de Copacabana. O retrato acima foi feito na sala do apartamento de Drummond na rua Conselheiro Lafaiete, no Rio de Janeiro, nos seus 80 anos, em 1982. Fica registrado aqui nosso agradecimento a Rogério Reis, que nos autorizou a publicar a foto.