Obrigada, Marta
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Nós estivemos juntas na Copa do Mundo de Futebol Feminino, Marta, mas você nos representa há bem mais tempo. Você nos representa quando usa batom vermelho vivo e penteado no trabalho, e as atenções se voltam muito mais pra isso do que pro resultado que você entrega – e nem assim você se rende ao desânimo.
Você nos representa quando ganha menos que os homens que fazem o mesmo que você e, apesar deste fato, nunca deixa de dar seu melhor, como se cada partida fosse a mais importante da sua vida. Você nos representa quando não nega sua origem humilde e faz questão de dedicar boa parte do que recebe pra melhorar a vida da sua família.
Você nos representa quando leva pra capa da revista Vogue a beleza real e brasileira. Quando transforma em manchete a essência, e não apenas a aparência. Quando oferece pra todas as mulheres do nosso País seus gols e suas vitórias. Quando tem consciência de que, quando você brilha, brilhamos todas.
Mas em nenhum momento você nos representou tanto quanto na derrota, Marta. Seu choro sentido ontem, que não apagou a dignidade do jogo disputado com suor e dedicação, sua fala entre lágrimas, fazendo questão de destacar muito mais o empenho do time que seu próprio ego e vaidade, exibiram a face de cada uma de nós.
Que mulher já não teve seu valor colocado em xeque nos ganhos e, sobretudo, nas perdas? Que mulher não precisa partir do zero a zero todos os dias, e, ainda que consiga marcar um super gol, pode ter sua conquista relativizada e até diminuída? Que mulher já não chorou de tristeza, sabendo que mais tarde as lágrimas seriam de alegria e orgulho? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Quando você vence, vencemos todas. Mas quando você perde, Marta, a gente ganha em dobro. Porque é preciso muita força pra superar uma derrota e muita sabedoria pra transformá-la em trampolim pra novas vitórias. Você chutou a bola em campo e que golaço na nossa autoestima você marcou. Obrigada, Marta.