Só por hoje

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Coração acelerado. Boca seca. Mãos geladas. Pernas tremendo. Pescoço duro. Pensamento confuso. Aperto no peito. Respiração ofegante. Não era pra ser assim, era só o laudo de uma ultrassonografia que fui buscar. Lembro que, da última vez, o resultado não foi bom. Volto pro passado doloroso. Temo o futuro. Estou tendo uma crise de ansiedade.

Sinto raiva. Ódio de mim. Eu havia prometido que isso nunca mais iria acontecer. Como pude ser tão burra e displicente? Jurei que nunca mais pararia de fazer atividade física, meditação e buscar ficar conectada no agora. Como pude me perder de mim desse jeito, de novo? Que idiota eu sou.

Enquanto penso nessas coisas, a crise de ansiedade só piora. Dentro do carro, clamando a Deus uma luz, lembro de alguém que falou que, quando isso acontece, é porque nossa criança interior está pedindo socorro. Volto, então, aos meus seis anos de idade. Uma menina bochechuda, branquela e de cabelos cacheados chora de pavor e pede colo.

Não tenho coragem de gritar com essa criança nem de chamá-la de burra. Ao contrário, eu a abraço com carinho e digo: “Vai passar, mas enquanto não passa, estou aqui pra te ajudar a enfrentar o medo. Ele não é maior que você”. Ela vai se acalmando – eu também. Ela para de chorar – eu também. Entre lágrimas, qual não é minha surpresa ao constatar que, assim como ela, eu não precisava de broncas e exigências, mas de acolhimento, amorosidade e paciência.

Faço os exercícios de respiração que aprendi na ioga. Meu coração se acalma. Volto pro agora. Passados os 15 minutos de inferno, que mais pareceram 15 horas, entendo que preciso mudar o compromisso que fiz comigo. Nunca mais vou me torturar por sentir medo.

Só por hoje, vou tentar viver no presente. Só por hoje, vou buscar o que me faz bem e me acalma. Mas tudo bem se eu não conseguir. Tudo bem se eu sofrer pelo passado ou pelo futuro. Sou humana, imperfeita, e isso não faz de mim pior que ninguém. Só por hoje, vou levantar a cada recaída de ansiedade de que tiver. Como disse Renato Russo, “só por hoje, ao menos isso eu aprendi”.


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