Não sou estrangeira…

Foto: Arquivo pessoal

*Carla Caroline

Esses dias cheguei em casa um tanto irritada. Mais do que o normal, confesso! O motivo? Respondi pela “milésima” vez que não sou estrangeira. Foi a secretária de uma empresa, uma pessoa que havia me conhecido há poucos dias, na rua, no banco…

Conversando com o meu companheiro, um homem branco, cis, hétero, que reconhece o seu lugar de privilégio e compreende minhas “dores” como mulher negra, contei sobre as vezes que precisei afirmar que nasci, cresci e sempre vivi no Brasil; que meu sotaque é do InterioRRR… E, também, como tudo isso me incomodava.

Discutimos e alguns questionamentos surgiram: “São minhas roupas coloridas?”; “Meu jeito de gesticular e falar alto?”; “O inglês (sofrível)?”; “A profissão?”; “A cabeça raspada, os acessórios grandes ou o turbante?”. Foram várias as hipóteses levantadas. Porém, me doeu pensar que pode ser pelo simples fato de eu ser uma pessoa que gosta de conversar, que se dispõe a conhecer restaurantes e museus, que gosta de outras culturas e que busca seu “espaço ao sol”.

Foi difícil olhar e aceitar que, muitas vezes, os locais e as pessoas não estão preparados para receber a diversidade – sejam homossexuais, pessoas com deficiência, negros e afins. Entender que optar por ser quem se é (de verdade), atrai olhares curiosos e desconfiados. Ser “diferente”, faz com que você pareça tão “estranho”, mas tão “estranho”, que seu jeito é lido como sendo de outro lugar. De outra cidade. De outro estado. De outro país. Quiçá, de outro planeta.

Diante de tudo isso, não sei se encaro como resquícios de preconceito, racismo, má aceitação popular ou um misto disso tudo. E vocês… são estrangeiros em seu próprio “universo”?

*Carla Caroline escreve aos domingos, a cada 15 dias. Quer saber mais sobre ela? Leia aqui.


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