O dia em que fiquei doente


Foto: Pixabay

@revarandas

Sempre sonhei muito e não estou romantizando. Falo de sonho mesmo, daqueles que você deita, dorme e sonha. Tem noites em que me lembro de quatro sonhos diferentes.

No dia em que fiquei doente, tive um sonho só. Um homem que nunca vi me dizia: “Renata, acorde agora e vá para o hospital. Você está tendo uma trombose”. Acordei, mas nem tinha amanhecido ainda. Liguei o computador e digitei no Google “trombose/sintomas”. Estava ali tudo que eu vinha sentindo.

Exames feitos e veio o diagnóstico do médico: “É pior que imaginávamos. Você também está com um quadro de embolia pulmonar nos dois pulmões”. E assim, bem acordada, encarei esse pesadelo.

Fui direto pra UTI, sem direito à negociação. Esse médico/anjo que descobriu a embolia, doutor Paulo, dormiu aquela noite comigo, mesmo não sendo o plantonista do dia, mesmo sem me conhecer.

Além dele, deixaram minha desesperada mãe ficar. Ela passou a noite me velando, sentada em uma cadeira ao meu lado.

Naquela madrugada de 10 de junho de 2010, tive o melhor sonho que um simples mortal poderia ter: dezenas de pessoas chegaram juntas e se aglomeraram em volta da minha cama. Todas, em um movimento orquestrado, colocaram as mãos sobre o meu corpo. Não sobrou espaço do pescoço para baixo. Cada uma fazia a sua própria oração. Todas tinham o mesmo propósito: pedir que eu me curasse.

Eu apenas agradecia mentalmente e torcia pra que minha mãe, que não tinha pregado o olho até cinco minutos atrás, acordasse e visse a cena mais linda da minha vida, mas ela dormia. Doutor Paulo também.

Aquelas pessoas foram embora em silêncio e imediatamente acordei minha mãe. “Mãe, você perdeu o que aconteceu agora”. Choramos juntas e agradecemos.

Sempre falei que não tinha medo de morrer. Naquele dia, minha certeza caiu por terra. Ali, descobri a fragilidade.

Nove anos depois, continuo sonhando todas as noites, mas sei que nunca mais terei uma experiência como esta. Desde então, sigo um ritual: todo santo dia, agradeço pela minha vida e pelo privilégio de ter sonhado um único sonho aquela noite.


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