A renascida pausa do infinito particular


Foto: Arquivo pessoal

*Fábio Góis

Não deve haver quem tenha assistido a “Into the wild” (“Na natureza selvagem”, o título equivocado) sem ter se identificado com o sentimento de liberdade e levante contra padrões e comportamentos sociais que o filme evoca. Quem aqui nunca quis apenas existir?

O que há de melhor no filme é a trilha sonora de Eddie Vedder, com menção honrosa à direção instigante de Sean Penn. Tudo vem à tona. Sensação de liberdade quase plena e irrestrita, ideia agônica de finitude, o tênue limite entre razão e insanidade, o impotente flerte com a aventura do autoconhecimento…

Foto: Divulgação

Mas já que a questão aqui é se entregar ao mundo, eu vou dizer o que do roteiro me tirou de sério, positivamente falando: a difícil resposta para a pergunta “por que sofremos tanto quando o assunto é trabalho ou estudos”. Quem aqui nunca quis apenas acordar e continuar em paz?

O fiapo de resposta, o descortino, como algumas coisas na vida, veio da maneira mais drástica: um pedido de demissão depois de quase 15 anos de jornalismo na veia, in loco, no Congresso, no centro do poder em Brasília.
Serviço prestado à posteridade – boa sorte para você que tentar combinar “deep web” com lei do “direito ao esquecimento” – com todos os danos que isso implica. Quem aqui nunca se sentiu prestes a ter seu dia de fúria?

Pois meu dia de fúria foi puro dia de amor. Meu primeiro dia “into the wild” foi quando resolvi deixar o Congresso em Foco, em primeiro de março. Data redonda, início de mês e jornada, a uma semana do meu aniversário. Quem aqui nunca se viu em absoluta queda livre e com borboletas brincando dentro da própria barriga?

Deixei o emprego, a miríade de hábitos diários, a constelação de sorrisos queridos a cada passo, o “status” de presidente do comitê de imprensa mais amoroso que há… Ou melhor, não deixei nada: está tudo eternizado. Mais adequadamente digo que ganhei dias de felicidade plena em terreno instigante – estive até em bosque de bambus e santuário de cristais. Nunca minha natureza esteve tão selvagem.

*Fábio Góis pensa ser jornalista, mas desconfia ter sido encantado durante a monografia sobre Clarice Lispector e, por isso, percebe-se como escrevinhador profissional. Nasceu em Recife, é filho de Yemanjá e tem uma mulher como guru espiritual.


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