Autodeclaração

Foto: Rafael Morgan

*Letícia Araújo

Quando tinha sete anos, me apaixonei pelo garoto da terceira série. Igor era o seu nome. Numa partida de queimada, antes de começar a aula, ele me salvou. Pra mim, o suficiente pra me declarar. De lá pra cá, sigo me declarando pras minhas paixões, pros meus amigos, para o trabalho. Até que um belo dia, pensei em quanto tenho me declarado pra mim…

Me perguntaram, então, se eu me amava ou continuava no processo de “vítima das circunstâncias”. Na real? Já faz tempo que não me vejo como vítima. Tem uns cincos anos que saí desse papel e passei a me responsabilizar. Hoje tenho uma autodeclaração.

Quando me olho no espelho e vejo essa mulher, como a da foto, de sorriso espontâneo, me apaixono por ela. Me apaixono também pelas suas lágrimas, mais ainda pela sua coragem. Assumir quem e como se é, dar as mãos pra algumas mudanças e construir a cada dia um autoamor tem sido um desafio.

Mas sabe de uma coisa? Eu acho que ando muito apaixonada. Por mim. E que seja assim: comecei verbalizando, me autoafirmando, me fazendo de forte e durona. Agora me amo na minha fragilidade, no amargor da derrota, na luta contínua de desbordar – sair da margem.

Sou um quadro inacabado em constante repintura. Onde uma tinta sobrepujada a outra cria cores inventadas e únicas, com tons peculiares de cinzas e coloridos que se transformam a cada pincelada da vida. Esse sorriso aí não foi pra foto, veio da alma. Pra Letícia que se reedifica a cada novo olhar.

*Letícia Araújo é visceral, forte e resiliente. Reúne tudo que escreve e faz sentido no https://oqnaofazsentido.tumblr.com/

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