Como você é corajosa!

Foto: Arquivo pessoal

*Camila Tavares

Lembro-me como se fosse hoje. Cheguei atrasada na escola para deixar meu filho. Ele tinha uns quatro anos. Descemos do carro e fomos andando em direção à sala. Mas os passos eram lentos, pois à frente estava uma mãe empurrando um carrinho de gêmeos e, ao lado, uma menininha de uns cinco anos. Ultrapassamos todos e, quando olhei novamente, percebi que ela estava grávida.

Pensei: “Não é possível. Três filhos e ainda grávida. Essa é corajosa! Eu, só com um filho, quase não dou conta, imagine com quatro!” Deixei o pequeno e fui trabalhar. Os anos se passaram e eu encontrei várias “corajosas” pelo caminho. Olhando-as assustada. Até que eu me tornei uma.

Quando minha menstruação atrasou, meu marido logo adiantou: “Você está grávida”. Neguei. Na minha cabeça, não havia a menor possibilidade. Minha menstruação nunca atrasava, mas atrasou. Eu era a mais nova “corajosa”.

O mundo desabou. Três filhos – dois bebês. Sim, o do meio tinha oito meses. Logo eu, extremamente metódica. Como isso aconteceu? Tempos depois descobri que o antibiótico cortou o efeito do anticoncepcional.

Tinha vergonha de contar que estava grávida. Até que, durante uma brincadeira, ouvi uma frase sobre uma possível gravidez minha: “Não quer ter vida não, filha?” Tudo ficou mudo. Parei para pensar. “Por que minha vida seria difícil com três filhos?”

Dali em diante, percebi que pensar positivo é o começo para neutralizar o medo. Que, na verdade, os outros são cruéis. Passei a gravidez inteira ouvindo que “sou corajosa”. Perguntaram até se “eu queria mesmo ter muitos filhos”.

Querem saber de uma coisa? Sou mesmo corajosa. Olho para minha casa cheia. De crianças e de vida. Penso que se tivesse apenas um filho não teria a menor graça. Eles estão crescendo, interagindo. Evoluindo. Tenho ainda mais alegria. Tudo melhorou, apesar das inseguranças, dos gastos.

O tempo é mesmo o senhor das coisas. Só ele para mostrar que julgar o outro é ato de covardia e que se eu não aprendesse com tantas passagens, ele me ensinaria à força. Que bom que aprendi também a não apontar o dedo assim. Não é só coragem. É a certeza de que nunca estarei sozinha.

*Camila Taveira é uma paraibana em Brasília, filha e neta de paulistas e bisneta de italianos e portugueses. Uma mistura do mundo. Jornalista. Mãe. Aprendiz da vida. Não necessariamente nessa mesma ordem.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *