A vida me encheu de porrada, mas eu sigo tentando
*Francy Rodrigues
Já precisei me reinventar muitas vezes. Quando criança, lembro de ter saído correndo na rua de casa atrás de socorro por algo que nem eu sabia exatamente o porquê. Foi a primeira crise de pânico, dor sem resposta, patológica e eu ainda não sabia. Anos depois descobri que era depressiva assim como outros parentes. Era DNA.
Senti a dor da ausência/saudade ainda muito cedo. Meu pai era pescador, passava mais tempo nos rios da Amazônia, buscando nosso sustento, do que em casa com a gente (eu, mamãe, três irmãos e a Maria, meu primeiro grande amor depois da família. Era a moça que cuidava da gente. Maria casou e quando saiu de casa me deixou em prantos de amor e saudades).
Quando meu pai chegava da pesca, cerca de 40 dias depois, era uma farra. Ele cobrava a tabuada com mão à palmatória. Estava nos mostrando a importância do saber. Lembro que ele usava uma frase que nos dias de hoje poderia ser interpretada, equivocadamente, pela intolerância: quando tiver o diploma na mão pode até ser puta. Na verdade, a mensagem era: estudem filhos, só isso garante o futuro de vocês. Entendemos direitinho o que ele queria dizer. Eu cresci obcecada para fazer faculdade e seguir uma profissão.
Eu vendia limão no mercado em que meu pai vendia o pescado. Um dia, um cliente jornalista disse ao meu pai: vou levar essa menina pra TV quando ela crescer. Ali começou a minha história com a comunicação. Fui pra TV Amapá em 1992, aos 16 anos. E a vida seguiu.
Hoje, digo com orgulho: SOU JORNALISTA.
Não foi fácil. Os desafios dessa caminhada reacenderam a dor da alma, também conhecida como depressão. Lembro, com dor no coração, do dia em que fui acusada de roubar uma caneta na redação. A acusação me destruiu por dentro, todos destilavam olhares de ódio em mim. Nunca fui uma ladra. Não peguei a tal caneta. Chorei calada no caminho de volta pra casa. Era muito jovem, não sabia como reagir. E assim seguiu a roda gigante da minha vida: a vida bate, eu choro, e recomeço.
Hoje, estou aqui! Não sei se melhor, mas sempre com muita coragem de começar a qualquer tempo. E sigo acreditando que a minha vontade de fazer supera minha fraqueza da depressão. Eu quero ser amanhã melhor do que sou hoje.
Francy Rodrigues é jornalista. 26 anos de TV, 14 anos em assessoria de imprensa no Senado Federal, se apaixonou pelas redes sociais e hoje se especializou em dicas e truques sobre o Instagram. Uma jornalista apaixonada pela profissão.