Não quero mais competir, nem comigo mesma

Foto: Arquivo pessoal
Taciana rema no Lago Paranoá, em Brasília, DF (Foto: Arquivo pessoal)

Eu já testei os limites do meu corpo. A primeira vez que competi na vida foi aos 44 anos, dentro de uma canoa havaiana, com mais quatro mulheres e um capitão. Remamos cinquenta quilômetros sem parar por cinco horas seguidas por todas as pontes do Paranoá, em Brasília.

Virei atleta meio sem planejar. Precisava me provar que era capaz de conseguir algo que ninguém ia me tirar. E não era uma medalha. Meu amor próprio estava inapropriadamente fora de mim, à deriva, náufrago e era questão de sobrevivência resgatá-lo. Não contei a missão pra ninguém, mas a equipe que estava comigo no barco me ajudou na tarefa mesmo sem saber. Quando terminei a prova, sabia que algo dentro de mim havia mudado. Eu tinha feito o resgate, mas o amor próprio estava desnutrido.

Veio a vontade de alimentá-lo e pensei em fazer isso competindo. Exatamente um ano depois da primeira prova, fui para o gelado mar de Cabo Frio. Ondas gigantes levaram meu corpo mais uma vez ao limite. Dos 14 km do percurso, remei sete vomitando.

Por pouco não desmaiei, por pouco não morri. Terminei viva, mas algo dentro de mim novamente tinha mudado. O amor próprio já fortalecido me perguntava até onde eu precisava provar a força do meu corpo físico. Porque a competição foi sempre comigo. Eu contra mim. Nunca me importei com o lugar no pódio.

Cinco meses depois, ainda insisti e fiz outra prova no mar, em Ilhabela. Desta vez, só meu corpo estava presente. Senti que era a última, mas não admiti. Desde então, venho inventando desculpas para não participar das provas.

Esta semana, quando entrei no barco pra remar, chorei. Remei engasgada. Era o fim de um ciclo. Aposento minha breve vida de atleta. Por ora, não quero mais competir, só remar. Entrar na canoa sem relógio pra medir a performance. Quero eu mesma sentir a batida do meu coração.

O amor próprio resgatado me ensinou a ouvir e respeitar meu corpo. E ele me pede um tempo em outro ritmo. Um tempo para que minha alma possa igualmente se conhecer. A consciência corporal me levou à consciência do que me cerca. Não preciso provar mais nada pra mim. Não quero mais competir, nem comigo mesma. Nós já vencemos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *