Medusa, cebola, cabelo e os nervos

Foto: Arquivo pessoal

*Verônica Brandão

Nunca quis que meu cabelo fosse um véu honroso. Minha capilaridade nunca foi um chamariz para o sexo oposto. A mulher virginal, honrada, princesa ou deusa foi representada com longas madeixas. A Vênus de Botticelli? Cabeluda! Psique, Pandora, Calipso, Eva e Maria…todas cabeludas. A beleza feminina sempre esteve ligada ao cabelo? Parece que sim.

Quem tinha pouco cabelo ou estranhas melenas era considerada feia, bruxa, vadia ou doente. Medusa perdeu a beleza, os cabelos, e ganhou serpentes na cabeça. “Fujam da monstra, homens”.

Rapunzel jogava as tranças para o amado. Quantas histórias não ouvimos sobre mulheres com belos cabelos desde crianças? São várias. Porém, nem toda mulher com os cabelos curtos (ou as carecas) são ruins ou doentes.

Nunca acreditei, diferente de Sansão, que meu cabelo fosse algo de absurda importância. Admiro quem gosta de um cabelão, mas faz tempo que prefiro fios bem curtos. E me dou bem com o tamanho. Cabelo é raiz e raiz cresce se estiver em terreno saudável. Minha mente sempre foi bem fértil e meu cabelo cresce como mato. Meu cabelo não sou eu, mas faz parte do que sou. Eu defino meu cabelo e não o contrário.

As pessoas ainda teimam em opinar sobre a capilaridade das mulheres. Até cebola me indicaram passar para o meu crescer rápido. O meu está curtíssimo. O interessante é o modo como as pessoas me olham: com dó ou com desconfiança. Ou fiz quimioterapia ou sou lésbica. Ou melhor, ouvi de algumas outras que sou corajosa. “Dalila, corre aqui”.

Para cortar precisa ter coragem? Acho que manter longo é que exige sacrifícios. Chapinhas, secadores, tinturas, fios no lugar, amarra daqui, estica dali, e os mais diversos meios de manter o cabelão alinhado. Cortei bem curtinho e, pasmem, continuo uma mulher com uma baita feminilidade. É bom mudar a moldura. Agora me vejo muito mais Eu. Lembrando Clarice Lispector, o principal inimigo da beleza feminina são os nervos. Cuidem dos nervos e da coluna vertebral!

*Verônica Brandão é uma amante da sétima arte, leviana com os homens, amante de um bom café e cheiradora de livros por natureza!

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