Morte morrida, morte matada
*Daniela Oliveira
Quase sempre tive uma relação estranha com ela, a morte. Talvez pelo fato de não compreender como era possível alguém partir e deixar tanta dor e vazio.
Meu contato com ela começou cedo. No início, ela apareceu em minha vida com meus animais de estimação. Tive cão, gato, coelho, pintinho… Cheguei a adotar pomba, pardal e até formiga (acredite, tive uma colônia de formigas quando criança).
Meus bichinhos eram meus melhores amigos e com eles desabafava sobre as intempéries do dia a dia. Eles me acolhiam e acalentavam. Me ensinavam a ter mais responsabilidade, zelo e amor. Por isso, a morte de cada um despedaçava meu coração. Era uma certeza que eu gostava de esquecer. Não compreendia… Eles partiam de várias formas. Às vezes por morte “morrida”, às vezes por morte matada, mas nunca por falta de amor.
Apesar do amor intenso, não sabia lidar com a partida. Então, quando a morte vinha, eu virava a face, fechava os olhos, corria. O sentimento de dor por não ter mais meus bichinhos por perto me fazia questionar sobre como sobreviveria à ausência deles.
Conforme eu crescia, a morte passou a aparecer em outras formas e momentos, se tornando cada vez mais presente, no círculo de conhecidos, amigos e familiares. Ela se apresentava de diversas maneiras, às vezes como um ponto final, uma vírgula, reticências ou uma interrogação, mas sempre (SEMPRE!), deixando uma lição.
Com a morte, aprendi que há coisas que realmente importam e que a maioria não importa tanto assim. Com a morte, vem a certeza de que nem tudo a que nos dedicamos, no momento em que nos dedicamos, era necessário ou importante. Quanto mais o tempo passa, vem a maturidade em reconhecer a morte como um aprendizado e não só como dor. A cada partida, nascem novos valores que dependeram da presença dela, da morte, para aflorar.
*Daniela Oliveira é advogada, eterna estudante e contrariadora de estatísticas e padrões.