Por que você não me ajudou?
O vídeo mostra um homem idoso sendo derrubado pela água forte que invade a plataforma do metrô. Ele tenta se levantar, mas não consegue. Cai novamente. Quando consegue ficar de joelhos, vira para a pessoa que está filmando e pergunta: “Por que você não me ajudou?”
Quando o helicóptero no qual estava o jornalista Fernando Boechat bateu em um caminhão, explodiu e caiu em uma rodovia de São Paulo, várias pessoas pararam para filmar. Uma mulher, sozinha, tomou a iniciativa de subir no caminhão e tentar abrir a porta emperrada para salvar o motorista. Logo, um homem começou a ajudar, mas os outros continuaram a filmar.
Na ficção, o episódio White Bear da série Black Mirror é assustador. Enquanto a personagem principal tenta escapar de um assassino, várias pessoas aparecem filmando tudo em celulares. Ela pede ajuda, mas as pessoas não se abalam e continuam filmando. Ninguém ajuda.
O vídeo do senhor caindo no metrô, que viralizou nas redes sociais, foi feito em Nova Iorque, mas poderia ser sido em qualquer lugar do mundo. Parece que agora é normal “assistir” a desgraça alheia e reagir rapidamente pegando o telefone para filmar.
Acho que sempre foi assim, já que os livros de história estão cheios de atrocidades criadas justamente para satisfazer a vontade popular. Basta ler a história do Coliseu de Roma.
No mundo atual, não sei se as coisas pioraram ou se o celular do dia a dia apenas tornou isso mais visível. Só sei que é muito bizarro ver pessoas filmando, rindo e se divertindo ao invés de tentar ajudar alguém que precise, como o senhor que caiu e quase foi levado pelas águas.
Sempre que vejo um vídeo desses, me sinto mal, desconfortável. Tento me colocar no lugar da pessoa que precisa de ajuda, mas não recebe. E se fosse eu? E se eu pedisse ajuda e ninguém me ajudasse porque estava ocupado tentando garantir o ângulo perfeito do vídeo?