Os (des) caminhos da vida

Fabrícia Hamu no blog Vida de Adulto
Foto: Tatiane Gomes

*Fabrícia Hamu

Um dia adentrei por um caminho e quis muito continuar nele. Passei uma vida cultivando boas sementes e selecionei as melhores para plantar naquela estrada. Apesar do meu cuidado e dedicação, elas não brotavam. A terra era árida e hostil. Comecei a cavar com as mãos, indo cada vez mais fundo, porém encontrava somente cascalho e areia.

Havia alguns arbustos e, sempre que tentava tocá-los, me feria nos espinhos, que não eram visíveis, mas estavam lá.

No chão seco, sentia a aspereza das pedras pontiagudas que cobriam o caminho. Sedenta, pois não existia sinal de água nas proximidades, com os pés e mãos sangrando, caí de joelhos. Não podia mais permanecer na trilha escolhida.

Exausta, pela primeira vez ousei levantar a cabeça, que passava quase todo o tempo baixa, em busca de um plantio que não vingava. Então enxerguei outro caminho. Parecia verdejante, mais bonito. Tive medo de percorrê-lo, mas não havia opção. Mesmo insegura por não saber o que me esperava, mudei de estrada.

Sem forças para plantar nada, deixei as sementes caírem displicentemente no chão, que era macio e coberto por grama fresca. Logo à frente, havia um rio de água transparente. Matei minha sede e, tomada pelo cansaço, dormi dias seguidos. Quando acordei, vi que as sementes brotavam. A terra era fértil. As mudas cresceram e, com elas, vieram as flores.

Encantada com a paisagem, mergulhei no rio e nadei livre. Em nova ousadia, olhei para o céu. Pássaros cortavam as nuvens em revoada, me levando a enxergar uma beleza que eu nem sabia que existia. Do outro lado da margem, pessoas sorridentes acenavam, pedindo que eu fosse até elas. Eu já não estava mais sozinha.

Por que insisti tanto na outra rota que não me levara a lugar algum?

Porque precisava aprender com ela. Como dizia Guimarães Rosa, o real não se revela na chegada nem na partida, mas na travessia. Entendi que o problema não era minha forma de caminhar, mas a direção escolhida. Sempre é tempo de ajustar a bússola. Novos caminhos, novos passos. Uma nova vida começa agora.


*@fabriciahamu é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Escreve às segundas-feiras, duas vezes por mês.

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