Presente sem presente

Foto: Depositphotos

Não vou comprar presentes de Natal pra ninguém neste ano, quebrando um ritual, e repetindo uma nova forma de celebrar que comecei no ano passado. Não me vejo mais enfrentando shopping lotado pra procurar uma promoção pra comprar uma lembrancinha pra entregar numa noite que nada tem a ver com compras.

  • Mas as pessoas esperam!

Você já experimentou oferecer algo diferente? Dia desses, recebi um convite pra doar palavras, escrever uma mensagem de esperança e acolhimento pra alguém que, na noite de Natal, vai estar internado em um hospital. Distribuí palavras o ano inteiro. Descobri que palavras vazias só estão esperando serem carregadas por sentimentos pra tocar e presentear o coração do outro.

A ideia me fez ficar pensando. Se não fossem palavras, o que daria de presente pra uma pessoa que não vai poder levantar da cama no Natal? Uma blusa? Sapato? Não me vejo entrando num quarto de hospital pra fazer uma entrega dessa. Eu me vejo entrando, presente, com ou sem palavras. Por que preciso esperar alguém estar num hospital para lhe oferecer o que de fato importa?

Este ano, vou viajar de Brasília ao sul do país para passar o Natal com a família do meu pai, que é minha também. Meu pai já se foi, mas estarão lá meus tios, todos por volta dos 80, e primos com quem eu passei os Natais da infância. Faz mais de 30 anos que não festejo o Natal lá. Onde estive esse tempo todo? Só quero estar presente.

Presente é uma boa palavra pra doar. E ela carrega muito mais significados do que um sofisticado embrulho. Mas quero acrescentar uma outra palavra e oferecer junto com a presença. Na verdade, uma palavra que recebi de presente do meu professor de antroposofia: ingenuidade. Ingênuo virou sinônimo de tolo. Mas ingênuo, na origem, é puro. A criança é ingênua. O que ela nos ensina? A confiar. A criança confia nos pais, confia na vida, confia.

Por que deixei de confiar que recebo tudo que preciso para crescer e viver, não necessariamente o que peço e desejo? Será que virei uma criança mimada? Onde foi que deixei minha confiança? Minha ingenuidade? Pois é essa palavra que quero resgatar no Natal. É essa palavra que ofereço a você e à pessoa que estará no hospital. Ingenuidade está dentro dessa caixinha.

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