Memórias

Foto: Depositphotos

*”Carolina Qualquer Coisa”

A vida é tão corrida que talvez você não pense muito sobre. Mas você, como ser único que é, tem permeado a memória de outras pessoas, numas, mais; noutras, menos. De fato, você não tem muito controle sobre o quanto vão lembrar, mas tem algum controle sobre “como”. Aí eu te pergunto: que memórias você gostaria de gravar nas pessoas?

Um dia desses, uma amiga contou uma das histórias sobre sua família: seus avós eram humildes e viviam na roça (estamos nos anos 60, interior do Brasil). O que havia disponível na região, havia em abundância na mesa… e era isso.

Como em muitas famílias, sazonalmente se reuniam primos, tios, avós. E havia um tio que, nessas ocasiões, levava para a roça produtos desconhecidos, dentre eles, maçãs. Só que esses produtos eram apenas para os filhos dele. A mãe dessa minha amiga, vamos chamá-la de Elen, lembra de na infância saber que havia maçãs guardadas em algum cômodo da casa, sentia o cheiro, sonhava em experimentar.

Via, ao final dos encontros, os papéis azuis que envolviam as maçãs recolhidos no lixo. A fruta permanecia um sonho inacessível. Hoje Elen guarda no coração as memórias das festas de família, o amor pelas pessoas, e, como não lembrar, a vontade de comer maçãs. Hoje ela pode comer qualquer fruta do mundo, mas a infância de Elen passou: o tio jamais terá nova chance de realizar um sonho da sobrinha. O que ele ganhou, o que ele perdeu nesta história?

Há aproximadamente uma década, vi um filme que me lembra esse
questionamento. Um dos seus ensinamentos era o de que as pessoas morrem duas vezes: a primeira quando morrem mesmo, e a segunda quando morre a última pessoa que lembra com amor do falecido.

Lembrando também dr. Carjaval, que disse que “no amor, tudo permanece vivo”, podemos sentir que carregamos mesmo nossos amados “vivos” até o fim dos nossos dias. Paradoxalmente, certamente seremos lembrados pelo bem e pelo mal que fizermos. Mas por quais caminhos seremos amados? Em quantos corações você pretende viver além da sua própria vida?

*”Carolina Qualquer Coisa” (@carolqqcoisa) é gente veterana, mas escrevinhadora estreante. Olha para um mundo balizado pelo amor, e rema.

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