Dia de pedra

Foto: Arquivo pessoal

Tem dias que eu me sinto a própria poesia
Mas tem dias que eu olho pedra e vejo pedra mesmo, como já escreveu Adélia Prado.
Nesses dias, eu não tento lutar contra.
Eu sento na pedra e descanso.
Me dou o direito
Me permito me questionar
Me critico
Não vejo sentido algum no que estou fazendo.
Tenho vontade de voltar pro lugar comum.
Pra frase feita
Pro clichê
E só ficar na pedra mesmo
A pedra passa a ser uma simples pedra quando me sinto cansada e preciso achar um culpado para meu cansaço.
E fico dando voltas em volta da pedra
Reclamando que a pedra não sai do lugar para eu continuar meu caminho.
Quem colocou essa pedra aqui, por favor?
A pedra não responde.
Ninguém me responde.
É isso, tem dias que eu olho pedra e viro a própria pedra.
Pesada
Imóvel
Não quero sair do lugar
Não saio do lugar
Parada, começo a pensar no que me parou
No que me tirou a poesia
Eu mesma
Eu e minha mania de com_parar
Se eu comparo eu paro mesmo.
Petrifico
Estátua em vida
Inquieta, não me conformo e me trituro
Me divido em pedaços
Me refaço
Olho pedra
E não vejo mais pedra
Vejo partes divididas de mim que ficaram pra trás.

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