A culpa não é sua
Mariana Londres
Tive dificuldades de aceitar alguns finais de relacionamentos e, me colocando sempre no centro do universo, entrava numa espiral de autodepreciação.
Junto com a frustração pelo fim, na minha visão, precoce, começavam as perguntas: O que fiz de errado? Não sou bonita o suficiente? Será que ele não viu que sou legal? Ou ele simplesmente não gosta de mim. “Vamos parar com isso”, dizia a minha terapeuta tentando fazer com que eu enxergasse que essas perguntas são inúteis porque a resposta também está no outro.
Se você estava disposta e o relacionamento deu errado talvez a gente tenha que olhar no que acontecia da porta para fora, o que, em geral, é quase impossível porque simplesmente não temos e nunca teremos informações suficientes.
Anos depois tive total clareza do que a terapeuta me dizia quando ouvi um podcast com a história da escritora americana Terri Cheney.
Bipolar, Terri lutava contra a própria doença enquanto tentava ter um relacionamento amoroso. Marcava encontros quando estava em alta, brilhando como uma blusa de paetês, e tinha que viver esses encontros, muitas vezes, quando a depressão chegava.
Foi o que aconteceu entre ela e Jeff. Depois de ter passado o dia limpando a casa, escolhendo a melhor roupa, comprando comida e flores, Terri tem uma mudança repentina de humor que não a deixa nem aplicar a última camada de rímel. “Agora não!”, ela diz a si mesma enquanto a campainha toca sem parar e do outro lado da porta está Jeff, penso, com flores ou uma garrafa de vinho.
Paralisada, com lágrimas de rímel no rosto, Terri não consegue nem sair do banheiro. Jeff vai embora, imagino, se perguntando porque alguém marcaria um encontro pra sumir? Depois a cabeça de Jeff é tomada por outras hipóteses. “Ela deve estar com outro cara”. “Ela simplesmente não gosta de mim”. “Acho que não gostou do que eu falei no nosso último encontro”. “Acho que não sou legal o bastante pra ela, mulher linda, engraçada e bem sucedida.”
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Nada disso, Jeff. Nada que você fizesse mudaria o desfecho dessa história. Terri vivia uma enorme batalha interior, o que ela jamais te contaria. A culpa não é sua.