Laços de família

Foto: Arquivo pessoal

Eles eram nove. Hoje são cinco. Meu pai está entre os quatro irmãos que já partiram e foi o último deles a se despedir da gente. Todos homens. Três padres. É o lado gaúcho da minha família que mora no Sul do país. Nasci, me criei e fui criada em Goiás, mas todo fim de ano meu pai nos colocava no bagageiro da variant laranja pra passar o Natal com a família dele. Eram dois longos dias de estrada de Rio Verde até Erechim, mas era o momento do ano mais aguardado.

Neste último Natal, depois de mais de trinta ausentes, resolvi repetir o ritual do meu pai, mesmo sem ele. Não queria mais esperar ninguém partir. Levei minha mãe e quem eu pude pra lá. Não sabia o que me esperava depois de tantos anos distante. Distância que eu mesma deixava distante.

Pois eu tive a maior lição de amor dos últimos tempos. Em uma semana juntos, meus tios e primos me ensinaram algo que vai muito além do laço de família. Laço de amor. Que a conexão de amor quando é verdadeira, ela se leva pela vida e além dela – um vínculo que não se desfaz. Que amor não é amarra de obrigação.

Acredito que, não à toa, nasci na família que nasci. É o primeiro teste da minha capacidade de amar. E às vezes a família é o exercício mais difícil. É onde o erro é logo apontado. É onde a crítica é mais severa. É onde a diferença mais grita. Eu consigo amar quem está ao meu lado mesmo se não fosse da minha família? Mesmo se não fosse minha mãe? Minha irmã? Tio? E se eu ficasse muito tempo longe, sem aparecer?

Na temporada com minha família gaúcha, me senti acolhida, como se tivesse voltado para um lugar de onde eu nunca saí. A cada abraço dado e recebido, era como se eu recebesse junto um abraço do meu pai. E me perguntava:

  • Por que eu demorei tanto pra voltar?

Ao longo dos dias, eu tive a resposta. Porque tudo tem seu tempo. Porque eu fiquei um tempo perdida na superfície, no superficial, no supérfluo. Porque só agora estava preparada para receber e valorizar o que eles tinham pra me dar: o mais puro e simples amor. É como se eles já soubessem que uma hora eu fosse voltar e tivessem ficado me esperando esse tempo todo sem me julgar. Isso pra mim é amor. E amor recebido a gente devolve bem dobrado.

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