Não quero casar

Foto: Arquivo pessoal

Véu e grinalda. Vestido branco. A igreja cheia de flores. O altar. Todos olhando pra mim. Nada disso passava pela minha cabeça. Meus sonhos eram povoados com conquistas profissionais, viagens, carreira.

Sou da geração dos divórcios. Meus pais se separaram. Meus tios. Avós. E a dor das separações me fez acreditar, de forma inconsciente, que casamentos são fadados ao fracasso.

Meus namoros eram rápidos. Ou não davam certo ou eu me entediava. Arrumava uma viagem, um curso, um esporte. Das amigas, eu tinha a certeza que seria a última a casar, ou a única a jamais casar.

Até eu conhecer João. Ele era perfeito pros meus planos de não casar: estava se separando, filho pequeno, mudando de cidade. Era óbvio que não iria querer ter um relacionamento sério naquele momento.

Nos beijamos numa noite gelada de São João. Lógico que ele não vai ligar no dia seguinte, pensei. Ligou. No seguinte e nos próximos.

Em seis meses, aos 23 anos, saí da casa da minha mãe e mudei de cidade, pra morar com ele. Mas não era casamento. Deixei o meu quarto exatamente como estava. Levei só roupas e livros. Achava que poderia voltar a qualquer momento.

Mais seis meses, fiquei grávida. Quando Felipe nasceu, João me deu uma aliança. Não era um par. Ele não queria uma e eu não vi nenhum problema nisso.

Nos casamos quatro anos depois na presença dos nossos filhos, pais e irmãos, porque eu queria ser sócia de um clube que exigia a certidão de casamento. A lua de mel foi uma viagem com duas crianças.

E já são 20 anos de não casamento. Desse roteiro, de morar junto e ter filho antes de casar, eu não mudaria nada. Foi mais fácil levar uma vida a dois, e depois a três, quatro, sem ter feito um grande compromisso público, que são as cerimônias de casamento. O amor deve ser celebrado, mas a celebração pode, sim, ser a dois.

Eu não sonhei com casamento, mas sempre desejei o amor. A celebração podia ser como de Mickey e Mallory Knox, em Natural Born Killers (sem o pacto de sangue). Eles se casaram numa ponte, só a natureza como testemunha. Ao som de Sweet Jane, trocaram anéis de camelô. Mas havia amor. E o amor é maior do que o conto de fadas.

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