O silêncio em Roma chega a gritar
*Andressa Collet
Deu pra resumir o meu final de dia hoje, depois de colocar o filho pra dormir (e dormir junto e ser acordada pelo marido), ao terminar a taça de vinho que tinha começado: estava com o coração apertado, angustiada mesmo.
Eu moro em Roma e, desde quarta-feira, estou trabalhando remotamente; ontem, porém, era feriado no Vaticano, onde trabalho como jornalista. Mas não tive folga porque atendi colegas e amigos do Brasil que pediram um testemunho sobre o isolamento domiciliar que vivemos na Itália por causa da difusão do coronavírus, com o país literalmente fechado. E vazio. E num silêncio que chega a gritar!
Dá pra imaginar um italiano quieto, sem falar alto ou mexer mãos e corpo e quase sair dançando uma tarantella? Sério. Até terça-feira, eu pegava meio de transporte público, e o que se via era muito estranho. Um silêncio e apatia surreais.
Difícil até de descrever, porque a gente nunca viveu coisa parecida e, confesso: até não liberarem a gente pra trabalhar de casa, até eu estava ciente que bastava eu me cuidar dessa “gripe”, com as práticas já conhecidas de higiene e distanciamento social.
A mensagem, porém, precisa ser outra, inclusive nestes dias em que o Brasil está se vendo mergulhado em contar os números de casos positivos que aumentam, e os governos estaduais, empresas e instituições dispondo medidas restritivas.
A necessidade agora é de olhar pra si mesmo e reforçar a lavagem das mãos a todo momento (já que o álcool gel está em falta), não as levar pro rosto, evitar saudações e primar pela distância entre as pessoas, além de aglomerações.
Tudo vai passar pra depois podermos abraçá-los com ainda mais força! Mas vamos fazer com que seja o menos dolorido possível. A experiência italiana nos ensina o quão é importante ser corresponsável pelo próximo e pela sua vida para não comprometer a minha, a das estruturas sanitárias e a vida dos outros países. Cautela, esperança e fé!