Você tem garra?
Sabe aqueles 7×1? Nunca me saíram da garganta. Nunca engoli. Não é porque a Alemanha fez 7, foi porque o Brasil desistiu. Quando o time, ainda jogando, passou a administrar a derrota.
Dois sábados atrás, eu acordei cedo, longe de casa. Fui ali em Santos realizar um desafio que começou no último dezembro: A volta à Ilha de Santo Amaro, 75 km remando numa prova de revezamento. Quando fui convidada, nem acreditei. Foi uma surpresa acharem que eu poderia realizar isso, antes mesmo de eu pensar que poderia.
Os percalços não foram poucos, como exemplo o coronga, que chegou por último. Viajamos de máscara e sábado estávamos lá. Foi uma prova dura, demos tudo de nós, desde o início. Remamos muito bem, todos fizemos muita força, toda a força que tínhamos.
Mas os percalços que nossa equipe enfrentou foram dignos de uma categoria à parte: se houvesse troféu pra “se virância”, acho que o teríamos recebido. E como resultado, nos últimos 15 km, aproximadamente, perdemos uma posição na prova. A posição que nos tirou do pódio.
Mesmo assim lutamos até a última remada. Mas não houve misericórdia, não houve retomada de posição. Mas houve a redenção de quem só parou de remar forte quando a prova terminou. Mesmo com esse resultado, terminamos muito bem, surpreendendo muita gente, inclusive a nós mesmos.
O momento é para comemorar? Parece que nunca é. Tantas coisas passam pela nossa cabeça. A gente lá, concentrado, remando. Desafiando os nossos limites, buscando tornar a vida ainda mais brilhante, mais latente…
Mas nos hospitais, as pessoas continuam sofrendo, morrendo. Nos estômagos vazios, há fome. Nos corações partidos, a saudade de quem já foi. O medo, potencialmente paralisante. Há sempre uma tragédia ao lado. Há sempre uma dor pra cada sorriso. Mas há, também, sempre um sorriso em cada dor.
Quando fui ensinada a não deixar comida no prato porque era desrespeitoso com quem passava fome, não entendia… Guardei. Hoje entendo isso e acrescento: ser alegre é uma responsabilidade similar, já que temos tanta oportunidade de “gozar” dessa existência tão rara, da forma que vivemos. Na dúvida, sorria… a vida segue pedindo: “Acredita”.
*@carolqqcoisa é gente veterana, mas escrevinhadora estreante. Olha para um mundo balizado pelo amor, e rema.