Receita errada que deu certo
Estou em meio a uma crise de ansiedade para “dar conta de tudo” nessa nova rotina de quarentena. Decido fazer um pão, pois o que tinha acabou, e porque não consigo me concentrar em mais nada.
Escolho uma receita que já havia feito e que não tinha “dado certo”, mas que ficou tão gostosa que decidi repetir. Eis que essa “receita errada que deu certo” me abre pra algumas reflexões soltas sobre a pandemia, que me trazem a estas linhas.
Estamos diante de uma realidade nova, pra qual a receita a ser seguida no nível pessoal é elaborada a cada dia.
Quando a quarentena começou, certamente cada um de nós recorreu aos ingredientes que possuía e elaborou sua receita própria. E, a essa altura, alguns desses ingredientes seguem sendo úteis, e outros se mostraram “fora da validade”.
Podemos também nos deparar com a percepção de que a lista de ingredientes poderia ser bem menor, ou que está incompleta. Aqui penso nos ingredientes da minha receita: trabalho, dança, yoga, meditação, livros, faxina, séries, lives, vídeos com amigos… Me dou conta de como ela é extensa e que terei que substituir alguns desses ingredientes por outro, o desapego.
Percebo que, mais do que nunca, nesse momento é fundamental aprender a abrir mão de “dar conta de tudo”, me acolher e fazer o que dou conta.
Aproveitar a oportunidade de parar pra avaliar o que realmente é fundamental e quais são meus limites. Preciso dar conta de tudo o tempo todo? Qual o problema em diminuir o ritmo?
Voltemos ao pão. Disse lá em cima que a receita que estou repetindo não deu “certo” porque usei a farinha disponível, que era diferente da receita original. Ainda assim, o pão ficou saboroso. Logo, a receita deu certo, ainda que com adaptações.
Percebo que, assim como para a culinária, na vida às vezes precisamos estar abertos a adaptar as receitas ao que está disponível. Relaxo, enfim, pois entendo que o que está acontecendo comigo é pura vida: o exercício de viver o presente.
Ih, hora de desligar o forno e comer pão quentinho!
*@vilanovamel – No lado A, é geógrafa e servidora pública. No lado B, é uma entusiasta da expressão através da Arte (dança, canto e escrita).