Meu nome não é Maria

Foto: Arquivo pessoal

*Mirna Cristiane

A história da minha geração começa no pós-guerra, com o nascimento de meus pais, frutos autênticos do Baby Boom. Pertenço à geração X. Meus avós nos deixaram quando eu já era mãe. Pelo histórico dos nossos ancestrais, o ciclo vital dos indivíduos não passa dos 90 anos – respeitada a memória daqueles que não chegaram a nascer ou, logo depois de nascidos, partiram. Sendo assim, faz tempo que passei da “meia idade”.

Nesta manhã fria de inverno, me aninho sob o feixe de sol que passa por um vão entre os prédios. Da sacada contemplo o Viaduto Otávio Rocha, em Porto Alegre (RS), esta obra monumental que está em minha vida desde a minha Infância.

Contou-me, minha mãe, certa vez, que nunca escondi minha fixação por este viaduto. Sempre que precisávamos cruzá-lo, eu vinha acariciando-lhe o cimento. Era tão irresistível o ato de estender a mão e tocar aquela superfície áspera.

Meus dedos, em carne viva depois: não havia como explicar tal prazer.

Parte do meu tecido epitelial ficou no revestimento dessa edificação. Quem diria que eu iria morar tão perto, quase sobre ele? Dentro de mim, eu sabia que sim.

Esta pausa imposta pela pandemia também é o tempo de um mergulho interior. Isso me fez descer fundo em quem eu sou. Percebi que conquistei tudo aquilo em que toquei. Profissões que exerci, títulos acadêmicos: hiperfocos que abandonei. Tive e tenho bicho, planta, o coração de alguém. E o mais importante: tenho a mim mesma.

Ainda assim, nunca prosperei – aos olhos de muita gente. Certa vez, diante de uma terapeuta, desabei: eu tenho um forte sentimento de inadequação. Falei.

Foram dois anos de terapia.

Um looping para o mesmo lugar – sem saber o que o mundo esperava da minha pessoa. Já são quase 20, desde o dia em que me aceitei.

Daí, é tocar a Vida como ela vem, acariciar-lhe: porque ela sempre veio áspera. Continuo a ouvir de vez em quando: “Em que mundo você vive, afinal?” Dou de ombros e penso no menino que tinha um dedo verde. E vivia num mundo azul.


*@mirnacristiane Cases é educadora, especialista em aprendizagem humana, produtora de conteúdo, escritora de livros ainda não-publicados, mulher amada, mãe e avó feliz.

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