Tecla delete: use sem moderação
*Juliana Ribeiro
Paciência é uma virtude que nunca tive de sobra, mas parece que ela cresceu e amadureceu nos últimos tempos. Esses dias apaguei pela quarta vez uma resposta que estava escrevendo em um grupo do Whatsapp. Em meio a uma polêmica sobre uma marca de cerveja acusada de usar um rótulo inapropriado, alguém comentou que aquilo era mimimi.
Pensei e concluí que, embora a marca existisse há anos, a foto do rótulo realmente levantava questionamentos e que essa reclamação ainda não tinha surgido porque, provavelmente, o produto circula por um público restrito. Decidi responder. Antes de enviar, li novamente e vi que o tom de minha resposta estava muito duro e até rude. Mudei o texto. Mudei de novo. Apaguei, reescrevi.
Cansei e apaguei tudo. Não enviei.
Em outra ocasião, respondi um comentário no grupo de trabalho e vi que a pessoa não leu ou não entendeu o que eu tinha escrito. Me respondeu outra coisa. Tentei explicar, mas não adiantou. Como era uma questão banal, apaguei a última resposta e deixei de lado. Achei desnecessário continuar.
Também tenho apagado comentários em outros grupos e em redes sociais. Escrevo com o sentimento de alívio por estar me comunicando, dando minha opinião, mas apago e não envio. Por quê? Quando isso começou? Não sei.
O que sei é que estou gostando desse jeito mais paciente de ser. Hoje não acho mais que preciso me posicionar em relação a tudo. Consigo pensar racionalmente e me perguntar se realmente preciso responder aquele comentário ou aquela pergunta.
É relevante? É grave? Se for, vou responder.
Do contrário, até rascunho uma resposta, mas não me importo mais em apagar e mudar de assunto. Sigo em frente.
Mesmo assim, não deixo de pensar no quanto tudo muda o tempo todo e, justamente por isso, não há verdade absoluta. O que é mimimi para um pode ser ofensa para outro. Amanhã, essas posições podem se inverter. Tudo depende do contexto.
*@julianaribeiro_blog é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Escreve às quartas-feiras, duas vezes por mês.