Toda criança desamparada morre, ressuscite a sua!
Nasci numa família desestruturada e problemática, pai austero e mãe depressiva, sete irmãos e pouco feijão. Gostava de acordar de madrugada para ficar sozinha, desfrutando da paz que o silêncio oferecia.
Em casa, na escola, na profissão e nos relacionamentos, escondia-me de tudo e de todos, queria ser invisível, não queria ser percebida e socializar, coexistir sempre foi um fardo.
Somente há poucos anos pude compreender os motivos do retraimento e isolamento social, observando minha infância, compreendi que era uma criança morta.
Toda criança desamparada morre, entretanto, nem sempre a morte é física, existem muitas formas de aniquilar uma vida e constituir adultos doentes, vazios e ansiosos, entre elas a violência, a omissão, o abandono, a severidade e a repressão.
Crianças privadas de amor sangram até o esgotamento total, pois a autoestima, criatividade, amor-próprio, vaidade e alegria não se desenvolvem.
Quando me tornei mãe, responsável por mim e minha filha, percebi que não estava preparada para lidar com as angústias do mundo e isso me consumiu.
Para que eu pudesse dar conta da vida, precisei investir na ressurreição, acolhimento e cura da criança que me habitava. Precisei subjugar a ignorância de meus pais, oferecendo, primeiramente, o perdão e algum tempo depois, quando me refiz por completo, ofereci gratidão e amor.
É assim que se evolui, curando feridas emocionais e desbloqueando limitações, para que então, grandes feitos possam ser realizados. Nossos caminhos ressoarão para o sucesso, seja qual for à definição de sucesso, quando vencermos um dos maiores desafios da nossa existência, quando não procurarmos mais por segurança, amor e proteção em faces alheias, quando nos dermos conta de que a face protetora que tanto buscamos só pode ser encontrada no espelho, quando finalmente nos orgulharmos de quem somos.
*@miakodaescritora é psicanalista e autora do livro “Pânico – entendendo o transtorno” disponível pela Amazon.