Como uma pessoa ansiosa pode ajudar outra pessoa ansiosa?

Foto: Pixabay

*Juliana Porto

A abordagem foi assim, um pouco tímida e com receio de julgamentos, mas chegou até mim pelo Whatsapp, em um daqueles fins de tarde em que não suportamos mais ver relatórios:

— Ju, quero te fazer uma pergunta pessoal, mas fique à vontade se não quiser falar… Queria saber como é o transtorno da ansiedade, já que você tem. Não me sinto muito bem…

Sempre que era questionada sobre ansiedade, um outro questionamento retornava para mim, quase que de forma automática:

— Como uma pessoa ansiosa pode ajudar outra pessoa ansiosa?

Hoje sei como fazer isso, sem ser especialista no assunto, sem medo de errar e sem a ansiedade (sim, ela sempre está presente) de oferecer respostas prontas, porque meu convívio com taquicardia, falta de ar, mãos geladas, aperto no peito, enxaquecas e pensamento acelerado não é de hoje. Começou na infância e se intensificou na adolescência. Acabei ficando íntima desses desconfortos.

O que respondi à amiga foi o que o médico me disse sorrindo, quando, em 2016, perguntei se estava com algum problema neurológico após a pior crise de ansiedade da minha vida, com direito a sintomas de AVC: “São mais de 100 sintomas catalogados, observe-se e vamos cuidar disso juntos.”

Ansiedade não tem cura, mas sou prova de que um tratamento adequado, autoconhecimento e a terapia de conversa podem praticamente eliminar os sintomas.

Um ansioso pode ajudar outro ansioso quando o “eu entendo você” realmente significa algo. Quando um entende o aperto no peito do outro, e que o tratamento não é somente recorrer aos medicamentos, mas a quem possa nos oferecer uma dose de acolhimento.

Um ansioso pode ajudar outro ansioso quando reafirma que a ansiedade não o transforma em um ser anormal, até mesmo quando compartilha vídeos rindo da situação. E foi assim, rindo de um vídeo, que retomei a conversa com minha amiga.

— Nesta pandemia, estamos como esse personagem, a ansiedade dele está tendo crises de ansiedade.

Ela me respondeu com uma gargalhada:

— Não é fácil, Ju, mas rir da situação ajuda. Você não sabe o quanto.


*@julianastpto é jornalista e empregada pública que acredita que a escrita pode ressignificar situações e pessoas. Recarrega-se diariamente com família, amigos, livros e viagens.

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