Pronto, falei!
Completando quatro meses de isolamento social, resolvi fazer uma reflexão honesta, curta e realista sobre esse período. No começo, em março, as ideias ainda não estavam em ordem. Tudo muito novo. E esse ineditismo não me dava elementos para refletir.
O início do isolamento foi uma mistura de medo e euforia. Medo do vírus e seus impactos profundos na saúde pública e na perda de vidas e euforia com possibilidade de ficar em casa e buscar autoconhecimento, de estar perto dos meus, de me reinventar.
A realidade foi que não tive tempo para essa imersão. Os afazeres domésticos e o home office me absorveram completamente.
Porém, no pouco tempo que me restou de ócio me questionei se o mundo, as pessoas, vão se tornar melhores depois dessa pandemia. Minha conclusão é que não. Vamos sair diferentes, mas não melhores. As pessoas não vão mudar em sua essência. Uma pandemia não vai criar um ex-racista, um ex-misógino, um ex-homofóbico. O ser humano é limitado.
Fosse diferente, não teríamos que ver gente na rua gritando que “vidas negras importam” em vários lugares do mundo no auge da pandemia pela morte covarde de um negro por um policial branco. “Eu não consigo respirar” ecoará em nossas mentes para sempre, George.
Não melhoramos. Continuamos imperfeitos.
Alguns seres elevados de espírito, creio eu, conseguirão ser ainda mais evoluídos, porque são quase anjos. Mas esses são raros. Os brutos permanecerão brutos. Os amáveis, amáveis. Os solidários já eram solidários antes dessa tragédia global. Os introspectivos permanecerão assim. Cada um é o que é.
Vamos terminar exaustos por ouvir diariamente a contagem dos mortos, por ver o abismo social escancarado, por constatar que estamos longe da justiça social e que, infelizmente, nem uma pandemia será capaz de modificar algumas realidades. E cada um irá seguir o seu caminho exatamente igual ao que era antes.
Torço para que o tempo mostre que eu estava errada.
*@agnesssmelo, jornalista, alma livre, 53 anos.