Ameaça invisível
Prisão domiciliar. Sem algemas, sem tornozeleira, sem polícia.
Apenas algo invisível que me ameaça. Uma espada na cabeça me cerceia. Assim me sinto. Imposta por um ser invisível, misterioso, mortal algumas vezes. A consciência me prende. Estou amedrontada. Acovardada.
Penso em coisas banais de todo dia. Coisas que sempre fazia. Ir ao mercado. Comprar pão. Escolher uma maçã, um tomate. Tomar um café no meio da tarde, sozinha ou com amigas. Ir ao cinema. Tudo ficou proibido.
Pegar um avião, abraçar meus queridos que moram em outra cidade, isto é impensável!
Olho lá fora e estranho porque, às vezes, nem quero sair. Me sinto segura no meu canto.
Antes, andar numa rua vazia e ver alguém mascarado era o pavor. Agora o medo mudou. Medo de gente, medo de rosto desnudado, medo de toques, medo do invisível.
Sonho com fantasmas, pessoas sem máscara me ameaçando ou eu mesma sem a máscara, e acordo angustiada.
Apesar de tudo, tenho esperanças. Um dia tudo vai passar. A vida voltará a ser como antes? Não sei, talvez…
*@atlondres , nascida no Rio, mora há quase cinco décadas em Curitiba. Pediatra e nutróloga, adora cozinhar para filhos e neto e receber os amigos