Acolha sua princesa interior
Sempre adorei a “Branca de Neve”, sua pele suave e olhos negros me encantavam, ela era bela, inocente e prestativa. Assim como ela, queria evitar a hostilidade, conhecer pessoas gentis e encontrar um príncipe para me amar e proteger.
Na adolescência vivi com meus avós, época que recebi cuidados e ensinamentos pelos quais sou muito grata e, como retribuição, cuidava de tudo, lavava, passava, limpava e evitava causar aborrecimentos. Quanto ao príncipe, acredito que ele tenha se perdido no caminho e por isso demorou um pouquinho, mas chegou!
Em 2003, durante minha primeira e única gestação, ao saber que teria uma menina, pensei: “Minha Branca de Neve!”.
E foi assim que ela nasceu, pele clarinha como leite, cabelos escuros e olhos castanhos tão intensos que eu mal conseguia enxergar suas pupilas.
Ao revisitar meu passado, ficou evidente ter sido influenciada pelos “contos de fadas”. Meu estilo de vida, minha profissão e meus valores refletem bem a idealização de uma princesa que tinha como principais características: amar e servir. Porém, sigo reconsiderando algumas escolhas e crenças concebidas pelos padrões da época e a identificação com a personagem.
Hoje em dia, a indústria do entretenimento explora variedades étnicas e personalidades distintas, algo incrível, que possibilita às crianças a identificação e não o condicionamento. Uma boa oportunidade para se inspirarem naquelas que melhor refletem a própria essência.
Contudo, compreendi a importância de ser fiel às minhas preferências, sem me desculpar por isso ou abrir mão dos meus valores para me encaixar em algum tipo de padrão social politicamente correto. Admiro e respeito a individualidade, entretanto, atributos como autossuficiência ou engajamento político, apesar de valorosos e especiais, conflitam com minha personalidade, não falam sobre mim.
Nesse sentido, escolhi conhecer e acolher minha princesa interior para que eu pudesse evoluir e contribuir sem ter que negar a minha natureza.
*@miakodaescritora – Psicanalista e autora do livro “Pânico – entendendo o transtorno”.