Felicidade homeopática
Quando eu era pequena acreditava na felicidade em caixa alta, em letra maiúscula, sublinhada e em negrito. Era uma meta a ser cumprida e assim que fosse atingida, ela não teria como escapar. Com o avanço da idade, e tendo visto que sua permanência era impossível, mudei meu conceito e comecei a associá-la aos pequenos prazeres diários: quando acerto na escolha de um livro, um cafezinho no meio da tarde com uma amiga, aquele vestido lindo na liquidação, escutar minha música preferida no rádio ou uma mensagem inesperada.
Entendi que ela vem em doses homeopáticas e, geralmente, só aparece para os atentos. Ela chega de supetão, quando menos se espera. Na maioria das vezes, não estamos prontos para recebê-la. Ela não dá sinais, não tem mensageiro, só aparece… como um sopro! E se estivermos distraídos, ela passa batido, vira a esquina sem se despedir e nem adianta ir atrás.
Por isso, tem tanta gente alegando por aí que era feliz e não sabia, às vezes até sabia, só não deu tempo de perceber ou não prestou atenção, estava mais ocupado com alguma coisa que não deu certo no caminho.
Viver não é fácil, dói, mas não o tempo todo para quem procura pelo lado bom das coisas, e é nesse intervalo que encontramos um pedacinho de felicidade.
A gente é feliz quando dá, quando a vida deixa, quando ela cansa de bater e abre a guarda, aí a gente vai com tudo para cima, porque quer se agarrar a qualquer oportunidade acreditando ser a última.
Algumas vezes perdemos o momento, ficamos tão preocupados em nos defender, com medo de levar outra porrada, que não conseguimos encaixar o golpe; agora só quando ela vacilar de novo.
Já devo ter deixado ela passar por mim inúmeras vezes sem perceber, não estou sempre alerta, mas tenho um saldo bom. Continuo apreciando mais o caminho do que o destino, e quando ela demora muito a dar as caras, eu pego minha calculadora imaginária e vou contabilizando as pequenas alegrias arquivadas.
Afinal de contas, é melhor ser feliz todo dia aos pouquinhos do que esperar a vida inteira por uma felicidade idealizada.
*@priscilabulyk, dos @textos.da.pri, é uma carioca apaixonada pela capital, que apesar de ser auditora, só sossegou quando se descobriu escritora. Escrever é a minha ousadia!