Quarentenar
Esses tempos são de perceber e acolher, claro, pra mim, no meu microcosmo e quase dez anos de terapia. Tenho aproveitado esses meses de recolhimento, pouca interatividade social pra me perceber, estar presente e respirar.
Deixei que meu corpo desse os sinais de suas necessidades, que minha cabeça pudesse criar livremente, que minhas decisões e escolhas fluíssem. Me dei a oportunidade de parar e me perceber. Qual a importância do silêncio? Qual a necessidade de rir, sorrir e gargalhar mas também de chorar, ter raiva, indignação, amor?
Como escolhas que eu fiz impulsivamente refletem em mim e na minha vida, como emoções que parecem represadas se permitem correr no átimo concessor de emancipação. Parecem muitas perguntas, questionamentos até fundamentais da existência, mas não, a vida nos dá essas respostas, ou nós mesmos as elaboramos no percebimento de si.
Na quarentena acomodei as ferramentas que construí nos anos de terapia, mas sem a obrigatoriedade de me “terapeutizar” ou de tornar lógicas as emoções e fatos. Parei de me julgar. Sinto. Respiro. Escrevo. Fotografo.
Permito que tudo seja natural ao meu corpo. Hoje me entrego ao ambiente, em outros momentos sou observadora participante, em outros faço parte do contexto como se respirássemos juntos. Autonomia acadêmica, biológica, espiritual, artística, emocional…. Soberania.
Pra mim a quarentena me tornou parte integrada de onde escolhi estar e repousar sobre tudo, ser agente de acomodação e transformação na minha própria vida.
*@leticiagaraujo é visceral, forte e resiliente. Reúne tudo que escreve e faz sentido no https://oqnaofazsentido.tumblr.com/