A minha filha vai ser mãe

*Ana Rita Carvalho

O ano de 2020 mal havia começado e uma imposição se fez necessária: “Fique em casa”. A pandemia, recém-anunciada, ditou uma nova agenda e as atividades consideradas não essenciais foram deixadas de lado, à espera do “vai passar”.

Os planos de viagem para visitar filho e netos foram cancelados e encontros virtuais passaram a ser frequentes, na tentativa de minimizar a saudade e o efeito das ausências.

Os meses foram passando e a morte de milhares de pessoas ainda assusta e dói. Medo, ansiedade e incertezas continuam compondo o cenário mundial. O “fique em casa” ainda vale e viajar estava fora dos planos, até que uma necessidade maior se impôs: minha filha vai ser mãe.

Com a alegria da notícia, vieram preocupações: a gravidez que apresentava risco; as dificuldades de liberação de visto para entrar no país de destino; o medo de ser contaminada pelo vírus na viagem; e um medo ainda maior: o de não conseguir estar ao lado da minha filha neste momento. Foi um tempo de incertezas, exercício da fé e busca de suporte emocional.

Desafios e medos vencidos, cá estou em terras distantes, na missão de ajudar a minha filha a se tornar mãe. É um privilégio estar ao seu lado na reta final da gravidez e já presenciar o seu desabrochar maternal. É impossível não rever a minha própria maternidade, o que julgo ter feito bem e o que poderia ter feito diferente. Nesta atmosfera eu desejo entregar a minha filha o meu melhor para este momento, que é o colo e os serviços de mãe, para que ela faça a transição mais segura e suave para a sua própria maternidade.

Assim, quero fazer canjica, pão de queijo e biscoitinhos de polvilho; quero lavar as roupinhas de bebê e ajudar meu genro na organização da casa; quero estar presente pra dizer a minha filha que vai dar certo, que o leite vai descer e que ela já é uma boa mãe para a Lis.

Antes de terminar 2020, agradeço: chegará uma menina, filha da minha menina e me fará avó pela terceira vez.


*Ana Rita Carvalho é mineira, aposentada, casada, mãe e avó. Reside em Brasília onde construiu sua carreira como assistente social no serviço público. É especialista em psicogerontologia e autora da página @viva60mais no Instagram e blog do mesmo nome.

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