Tudo bem não ser mãe?

Renata Varandas escreve sobre não ser mãe por escolha própria
Foto: Arquivo pessoal

*Renata Varandas

Quem sou eu pra questionar a lei da vida, mas queria entender o porquê dela ter dado um deadline tão apertado para as mulheres no quesito maternidade. (Nota: deadline em jornalismo é o horário limite para entregar a matéria. É o momento em que o editor briga com repórter, chefe briga com os dois, você não atende ligações, não vai ao banheiro, ou seja: um horário conhecido pelas inimizades e infecções urinárias.) Voltando à minha inconformidade: por que temos, nós mulheres, que decidir se queremos ser mães com até 35 anos?

Obviamente, estou falando do método tradicional e não apelando para as maravilhas da medicina que congela óvulos e te dá trigêmeos ou da adoção, que te dá um filho de alma e coração, quando for a hora de vocês se encontrarem.

Eu nunca quis ser mãe, nem de barriga, nem de coração.

Quando criança pequena sim, era mãe das minhas bonecas, mas quando estava um pouquinho maior e brincava de Barbie, tinha a Barbie Escritório. Era uma maleta: de um lado, o quarto dela, estilo um flat, do outro, o escritório.

Quando comecei a trabalhar, antes dos vinte, só tinha uma preocupação: me consolidar no jornalismo. Foram anos seguindo essa obsessão, ou melhor, essa obsessão me perseguindo.

Os 30 bateram à minha porta. Com eles, estava esperando o tal instinto materno invadir a minha vida, porque segundo as amigas um pouco mais velhas, fez trinta, nasce uma vontade incontrolável de ser mãe, tipo aquelas de comer chocolate após o almoço.

Fiz 31, 32, 37 e agora os 38 já apontam e, apesar da minha miopia, consigo ver que eles não vêm carregando um pacote de instinto materno de presente para mim.

O problema é que se antes não havia dúvida, hoje, dá medo. E se daqui dois anos eu quiser engravidar e não conseguir mais? E se me arrepender de não ter congelado óvulos? E se descobrir que meu instinto não foi extinto? E se eu nunca tiver a chance de padecer no paraíso? Mas, por outro lado, e se eu for feliz sem filhos? E se me sentir realizada com as pessoas que tenho ao redor? E se estiver tudo bem não querer ser mãe?

Não estou fechando questão, longe disso… É o tempo que está fechando pra mim. Mas quem sou eu pra questionar a lei da vida…


*@revarandas é jornalista e uma das organizadoras do Podcast Vida de Adulto.

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