Feliz Dia da Mulher (pra quem?)

*Renata Varandas

Me julguem, mas confesso que tenho preguiça (e até um pouco de raiva) de receber um “feliz Dia da Mulher” de pessoas que são machistas. E não estou dizendo só dos homens, mas também de mulheres, que, inacreditavelmente, em pleno século 21, ainda sofrem desse mal.

Fico pensando sempre: “feliz Dia da Mulher pra quem?” Não me sinto feliz em ter de pensar estratégias de sobrevivência todas as vezes que saio de casa. Não vou com essa roupa mais justa porque pode chamar a atenção demais. Não vou fazer aquele caminho porque a iluminação não é boa e tenho medo de violência sexual. Não vou passar por ali porque tem um grupo de três homens e não quero ouvir piadinhas. Só vou me sentar no ônibus se tiver lugar ao lado de uma mulher para não correr o risco de ser importunada.

Não me sinto feliz em ler diariamente nos jornais que mulheres são mortas pelos seus “companheiros” por ciúmes.

Sempre me questiono se mulher também não sente ciúmes. Sentimos, claro, mas fomos ensinadas, desde pequenas, que não temos a posse de nada – nós somos a posse de alguém.

Não me sinto feliz em ter de fazer todas as tarefas domésticas, como se a obrigação fosse apenas minha, nem de ter que cuidar dos filhos e do marido, que já é bem grandinho e deveria se virar sozinho. Quando você dá muita sorte, arruma um companheiro que “ajuda” nos afazeres e até, de vez em quando, fica com as crianças enquanto você dá plantão. Que privilegiada é você…

Também não me sinto feliz quando meu colega de trabalho, que exerce exatamente a mesma função que eu e tem menos tempo de empresa, ganha mais que eu. Não me sinto representada quando sou chefiada somente por homens, numa clara alusão de que mulheres são incapazes de ocupar cargos de comando (a não ser o comando de casa, claro).

Ser mulher é isso: lidar com todas as adversidades que um homem sequer sabe que existem. Falta ainda um longo caminho a ser percorrido para que homens e mulheres possam andar lado a lado na estrada dos direitos e deveres. E o pior: a gente, que é mulher, ainda tem de fazer essa maratona de salto alto.


*@revarandas é jornalista e uma das organizadoras do Podcast Vida de Adulto.

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