Os vizinhos…

Carla Caroline escreve o texto "Vizinhos" para o blog Vida de Adulto
Foto: Arquivo pessoal

*Carla Caroline

Todos os sábados, por volta das 9h, ela liga para a mãe. Além de se inteirar da rotina semanal, há recomendações e discussões relacionadas à irmã “folgada” e ao pai, que esqueceu de de pegar a máscara ao sair. Logo depois, vem um pagodão.

Como sei que é uma mulher? Um belo dia, olhei pela janela e vi uma calça de pijama pendurada. Assustei. Afinal de contas, eu estava vestida com a peça. Sim, eu e a vizinha do andar de cima temos roupas iguais.

Ele canta. Faz almoços e pizzas. É o “implicante” do “Grupo do Condomínio”, compartilha fake news e fez show para animar o pessoal no auge da pandemia.

Nunca o vi, mas as refeições são saborosas e o pai estava internado. Desejo melhoras.

Elas são amigas e ficam conversando. Cada uma em sua porta. Afinal, há um vírus circulando, ambas são senhoras, com mais de 70 anos de idade e estão no grupo de risco. Porém, diariamente, passam um tempo em pé, com máscara, comentando sobre os últimos acontecimentos.

Tem as crianças que correm pelo corredor e, há pouco, soube que no apartamento em frente mora uma menina, quase da mesma idade da Nina. Nunca a vimos. O pai estaciona o carro atrás do nosso e comentou que a garotinha vai gostar de conhecer nossa filha. Um dia. Quem sabe?

Conheço o síndico (por questões burocráticas), alguns prestadores de serviço e uma família que tem um casal de gêmeos de uns quatro anos. Eles usaram a piscina um pouco antes de nós e nos encontraram para entregar as chaves.

Há o jogador de futebol que virou motivo de revolta. Ele promovia festinhas e os amigos saíam sem máscara e entravam no elevador. Uma combinação esdrúxula em pleno ápice da Covid-19. As professoras de natação e de português, também vivem por aqui. Soube pelos comentários do “Grupo do Condomínio”.

Após 14 meses, nunca troquei mais do que um “oi” com os atuais vizinhos. É estranho, mas confesso que alguns perfis nem quero ter por perto, viu? Tipo a moça mascarada que entrou no elevador, me analisou dos pés a cabeça e sequer respondeu meu belo “Boa Noite”! Talvez, quando pudermos nos conectar, de fato, as impressões mudem (ou não). Mas, uma coisa é certa: sentirei falta da piscina vazia (sic).


*@carlacaroline25 é colaboradora fixa do Vida de Adulto. Escreve aos domingos, duas vezes por mês.

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