A felicidade num café coado
Gostar de café coado é uma premissa inegociável. Se for café com um docinho, um bolinho, então, deu match.
Se um dia eu te chamar para vir aqui em casa e te ensinar a fazer café, você promete ficar e ouvir os sons das maritacas? Na madrugada, podemos inaugurar o dia. Esse é o nosso momento, não tem ninguém a não ser nós. O nosso olhar. O toque. O aconchego.
Olhamos pela janela, você apoia o queixo no meu ombro. Várias queixas. Eu sorrio. Dou uma gargalhada e mais um gole de café: “Estou brincando, você é lindo!”
Minhas costas nuas te autorizam a me tocar. Depois me viro, te fito, peço licença aos Gilsons, e penso: o que será que tem por trás desses seus olhos verdes?
Felicidade talvez sejam esses momentos que não queríamos que acabassem.
– Posso te congelar assim, olhando pra mim?
Se pudéssemos apenas ficar nesses momentos, talvez não saberíamos o que realmente é bom. Precisamos da monotonia, da seriedade, dos dias tristes, da solidão. E aqui fico com meu preferido, F. Nietzsche, quando diz “não me roube a solidão sem antes oferecer a verdadeira companhia.”
Porque às vezes, só às vezes, a felicidade se traduz na solidão da minha própria companhia… e de um café coado.
*@brunafoliveira_: nordestina de raízes, sotaque e afeto, sulista de residência. Libriana. Amante das artes, beleza, justiça, poesia e tudo que é bonito e toca a alma. Vivo de paixões e transmito-as ao papel como terapia. Chamo de escrevoterapia. Incentivada por amigos (escritores e não escritores), resolvi publicar meus devaneios.